Resumo
- O Sistema FAEP e a CNA testam um classificador automático de grãos no Paraná para reduzir divergências na avaliação da soja.
- A tecnologia usa infravermelho e inteligência artificial para analisar amostras com rapidez e precisão.
- Os testes foram realizados em cooperativas de Campo do Tenente, Ponta Grossa e Guarapuava.
- O objetivo é padronizar a classificação e eliminar a subjetividade causada por avaliações humanas.
- O Paraná se destaca como pioneiro na adoção da ferramenta, que promete modernizar o setor de grãos.
Nas safras de soja, o momento da entrega do produto nas cooperativas costuma vir acompanhado de expectativas — e, muitas vezes, de divergências. Diferenças na avaliação da qualidade dos grãos têm sido motivo de preocupação entre produtores e compradores, principalmente quando os critérios adotados pelas unidades de recebimento são interpretativos ou variam entre profissionais. Nesse contexto, uma nova tecnologia em fase de testes no Paraná pode redesenhar o futuro da classificação de grãos no Brasil.
A iniciativa está sendo conduzida pelo Sistema FAEP e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que acompanham de perto a aplicação de um classificador automático de grãos em ambientes reais de recebimento e expedição. O projeto tem como foco eliminar distorções na avaliação, garantindo mais transparência e confiança entre todos os elos da cadeia produtiva.
O Paraná, reconhecido como um dos principais produtores de grãos do país, foi escolhido como palco inicial para os testes de campo. A estrutura cooperativista bem desenvolvida e o histórico de protagonismo técnico do estado contribuíram para a seleção. Durante o mês de outubro, três unidades de referência participaram da validação da tecnologia: a Cooperativa Cooperante, em Campo do Tenente; a Frísia, em Ponta Grossa; e a Agrária, em Guarapuava.
Nos locais, os testes simularam situações reais de expedição de cargas, especialmente destinadas ao Terminal Portuário de Paranaguá. As amostras coletadas passaram por análises simultâneas: enquanto os classificadores humanos avaliavam os grãos seguindo os procedimentos convencionais, o novo equipamento realizava o mesmo processo de forma automatizada. O objetivo agora é confrontar os dados e analisar a aderência e a confiabilidade dos resultados.
O grande diferencial do classificador automático está no uso integrado de tecnologia infravermelha (NIR) e inteligência artificial para identificar defeitos nos grãos. Com essa abordagem, o sistema reduz a margem de erro humano, padroniza os critérios de avaliação e aumenta a velocidade do processo. Além disso, a conexão direta com sistemas internos elimina riscos comuns de transcrição e reduz a possibilidade de falhas operacionais.
Mesmo em cenários onde dois profissionais experientes poderiam divergir sobre a qualidade de uma amostra, o equipamento entrega um resultado técnico, embasado em padrões definidos por software e calibrado para leitura precisa. No entanto, o uso da tecnologia não exclui a presença humana no processo. A coleta, a preparação das amostras e o manuseio do equipamento ainda exigem profissionais capacitados, responsáveis por garantir que a automação funcione de forma correta e confiável.
A escolha do estado para liderar os testes não é por acaso. Nos últimos anos, o Sistema FAEP tem atuado de forma estratégica para apoiar produtores que enfrentam impasses nas unidades de recebimento, sobretudo no que diz respeito à classificação de grãos. Esses relatos de campo reforçaram a necessidade de criar soluções técnicas, resultando no apoio direto da CNA à busca por tecnologias que tragam mais justiça e padronização à cadeia da soja.
Em abril, durante uma reunião entre a Comissão Estadual de Cereais e a Comissão Nacional da CNA em Maringá, o projeto de classificação automatizada foi apresentado oficialmente. Desde então, os avanços têm sido contínuos, e o Paraná se tornou o primeiro estado a testar o classificador em ambiente real, com fluxo logístico simulado.
A expectativa é que, com os próximos resultados em mãos, o sistema possa ser ampliado e implementado em outras regiões do país, modernizando o setor de grãos e promovendo maior equidade nas relações comerciais entre produtores, cooperativas e cerealistas. Ao eliminar a subjetividade do processo, o classificador automático pode se tornar uma das tecnologias mais impactantes para o agronegócio brasileiro nos próximos anos.



