O mês de julho trouxe um novo sinal de alerta para o setor sucroenergético brasileiro. Dados divulgados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) revelam que as usinas da região Centro-Sul processaram 50,22 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na segunda quinzena do mês — uma queda de 2,66% em relação ao mesmo período do ciclo anterior. No acumulado da safra até 1º de agosto, a moagem soma 306,24 milhões de toneladas, o que representa uma retração expressiva de 8,57% frente às 334,95 milhões registradas no mesmo intervalo da safra passada.
A desaceleração ocorre em um momento crucial da temporada 2025/26 e está atrelada a uma combinação de fatores climáticos e operacionais. Em julho, o número de unidades em operação também recuou. Foram 257 plantas ativas — incluindo 237 usinas processadoras de cana, 10 de etanol de milho e 10 flex. No mesmo período do ano passado, 261 estavam em atividade.
Menor qualidade da cana intensifica desafio da safra
Se a queda na moagem já é motivo de atenção, o que mais tem preocupado o setor é a qualidade da matéria-prima. O índice de Açúcar Total Recuperável (ATR), métrica que determina o potencial de produção por tonelada de cana, fechou a quinzena em 139,62 kg/t, recuo de 5,21% em relação aos 147,29 kg/t do ano anterior. No acumulado, a média do ATR é de 126,85 kg/t, o menor nível registrado em uma década.
Essa perda qualitativa é reflexo direto das condições climáticas adversas que marcaram o primeiro semestre. A escassez de chuvas durante o verão prejudicou o desenvolvimento das lavouras, enquanto a umidade excessiva no período da colheita comprometeu a concentração de açúcares nos colmos. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a produtividade agrícola caiu para 79,84 toneladas por hectare, o que representa uma retração de cerca de 10% em relação à média anterior. Em algumas regiões, como Ribeirão Preto (SP) e áreas produtoras de Minas Gerais, o tombo no rendimento por hectare ultrapassou os 20%.
Açúcar e etanol: produção em desaceleração
A retração na moagem e a menor eficiência da matéria-prima também impactaram diretamente os números da produção industrial. No açúcar, foram produzidos 3,61 milhões de toneladas na segunda metade de julho — uma leve queda de 0,80% em comparação ao mesmo período da safra anterior. No acumulado, a fabricação atinge 19,27 milhões de toneladas, com retração de 7,76%.
O etanol também segue em ritmo mais lento. Foram 2,28 bilhões de litros produzidos na quinzena, sendo 1,40 bilhão de hidratado (queda de 13,54%) e 880,40 milhões de anidro (queda de 6,57%). Desde o início da safra, o volume total chega a 13,88 bilhões de litros, uma redução de 11,96% em relação ao ciclo anterior.
Embora o etanol de milho tenha registrado um desempenho positivo, com 392,43 milhões de litros fabricados na quinzena e avanço de 13,83%, sua participação no volume total é de 17,21% — ainda tímida para compensar a retração da produção baseada na cana.
Comercialização de etanol tem ritmo instável
A comercialização de etanol também apresentou oscilações. De acordo com a Agro Estadão, as vendas internas em julho totalizaram 2,93 bilhões de litros, com leve alta de 1,06% para o etanol anidro, utilizado na mistura com a gasolina. Por outro lado, o etanol hidratado, vendido diretamente ao consumidor, caiu 5,58% no mesmo período.
No acumulado da safra, o volume total de etanol comercializado atinge 11,48 bilhões de litros, o que representa uma retração de 2,73% em relação ao ano anterior. A oscilação no mercado reflete o cenário de incertezas que permeia toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar — da lavoura ao posto de combustível.