Em um cenário marcado por desafios globais e incertezas no ritmo de recuperação econômica, o agronegócio brasileiro voltou a exercer papel decisivo no terceiro trimestre de 2025. A combinação entre uma safra excepcional de grãos e o vigor da produção pecuária reforçou o desempenho do setor, que registrou crescimento de 0,4% na comparação direta com o trimestre anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora o avanço pareça modesto à primeira vista, ele se destaca em um momento em que o PIB nacional cresceu apenas 0,1% no período e se revela ainda mais expressivo quando observado em perspectiva anual, alcançando alta de 10,1% frente a 2024.
Esse resultado, aliás, superou as projeções de diversos analistas, que trabalhavam com expectativa de expansão anual próxima de 8%. O campo mostrou resiliência e protagonismo, mantendo-se como um dos motores mais consistentes da economia brasileira.
Supersafra consolida o peso do Brasil na produção global de alimentos
A força da agricultura no período está diretamente associada ao ciclo 2024/25, que consolidou uma das maiores colheitas da história recente. De acordo com estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil alcançou 350,2 milhões de toneladas de grãos, um volume 16% superior ao registrado no ciclo anterior. Esse salto reflete não apenas condições climáticas mais favoráveis, mas sobretudo ganhos significativos de produtividade em lavouras estratégicas, como milho, trigo, algodão e laranja.
O avanço da produtividade foi determinante. O IBGE aponta crescimento de 23,5% no milho, 13,5% na laranja, 10,6% no algodão e 4,5% no trigo, indicadores que, juntos, reforçam o papel da tecnologia e da gestão agrícola na expansão do setor. Ainda que a cana-de-açúcar tenha apresentado leve recuo de 1%, o desempenho geral permaneceu amplamente positivo. Quando se produz mais utilizando a mesma área plantada, obtém-se um efeito direto sobre o PIB: custos sob controle, maior eficiência operacional e impacto imediato sobre o valor adicionado da agropecuária.
Pecuária reforça dinamismo e amplia participação na atividade econômica
Ao lado das lavouras, a pecuária exerceu influência igualmente relevante no trimestre. O país caminha para atingir um recorde histórico de abates bovinos em 2025, com projeção de 41 milhões de cabeças, segundo a consultoria Datagro. A cadeia de proteína animal avançou também na avicultura e na suinocultura, que devem crescer 2,2% e 4,6%, respectivamente, de acordo com estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Esse movimento consolida a pecuária como um dos segmentos mais dinâmicos do agronegócio, impulsionado pela recuperação dos preços, aumento da oferta e estabilidade no consumo doméstico e internacional. Em conjunto com a supersafra, a atividade pecuária formou uma base sólida para o PIB do setor ao longo de 2025.
Com isso, o agro ampliou sua presença na economia brasileira. De acordo com Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA, o setor representou 8,5% do PIB nacional nos três primeiros trimestres do ano, frente aos 6,9% observados em 2024. Trata-se de um salto significativo, que reafirma a centralidade do campo na geração de riqueza e renda.
Expectativas para o quarto trimestre: entre a sazonalidade e a continuidade do impulso
Com a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, as atenções se voltam para o desempenho do período final do ano. Tradicionalmente, os últimos meses costumam apresentar desaceleração em algumas atividades, mas o setor trabalha com uma perspectiva moderadamente otimista. Conchon destaca que o comportamento histórico do agro indica um avanço ligeiramente maior que o registrado no terceiro trimestre, cujo crescimento foi de 0,4% em relação ao período anterior.
As projeções, ainda preliminares, apontam para um incremento entre 0,5 e 1 ponto percentual. Embora não haja um número fechado, a expectativa é de um trimestre estável e de impacto positivo, reforçado pelos efeitos prolongados da safra.



