Poucas árvores no planeta carregam tanta simbologia quanto o baobá (Adansonia digitata). Originário da África subsaariana, ele é conhecido como a “árvore da vida”, por sua longevidade impressionante — alguns exemplares ultrapassam dois mil anos — e pela capacidade de oferecer alimento, sombra e até água armazenada em seus troncos.
Seu fruto, de sabor levemente cítrico, ganhou destaque nos últimos anos ao ser reconhecido como um superalimento, rico em fibras, antioxidantes e vitamina C.
Origem e presença no mundo
O baobá pertence a um grupo botânico de nove espécies distribuídas entre a África, Madagascar e Austrália. No continente africano, sua imponência tornou-se parte inseparável da paisagem. Já em Madagascar, espécies endêmicas como a Adansonia grandidieri estão ameaçadas de extinção, o que reforça a necessidade de preservação.

No Brasil, os primeiros baobás chegaram em navios durante o período escravagista, trazidos em forma de sementes. Hoje, segundo registros da Embrapa, é possível encontrar exemplares em diversos estados, do Amazonas a Santa Catarina, com destaque para a Praça da República, em Recife, onde há uma das maiores concentrações da espécie no país.
O valor nutricional do fruto
A polpa do baobá é naturalmente seca dentro do fruto, algo raro no mundo vegetal. Essa característica facilita seu processamento em pó, muito usado em sucos, iogurtes e preparações culinárias.
“O baobá é riquíssimo em fibras solúveis, o que auxilia no funcionamento intestinal e no prolongamento da saciedade. Além disso, apresenta vitamina C em quantidades até seis vezes superiores às da laranja, sendo um excelente aliado para fortalecer o sistema imunológico”, explica Paula Amaral, nutricionista especializada em alimentos funcionais.
O fruto também contém cálcio, potássio e magnésio, minerais essenciais para a saúde óssea e muscular. Os polifenóis presentes atuam como antioxidantes, ajudando a proteger as células contra os efeitos do estresse oxidativo.
Da tradição à mesa contemporânea
Se na África o baobá sempre foi parte da cultura alimentar, usado em mingaus, chás e até como complemento de sopas, hoje ele ganha espaço em cozinhas do mundo todo. O pó extraído da polpa é versátil e pode ser incorporado em receitas doces ou salgadas.

Para Carlos Magalhães, chef e pesquisador em gastronomia africana, o fruto vai além da moda dos superfoods: “O baobá carrega uma memória ancestral. Quando o utilizamos em preparações culinárias, estamos também resgatando histórias e práticas tradicionais que atravessaram oceanos”.
No Brasil, restaurantes de matriz africana já exploram sua versatilidade em drinques, sobremesas e até na alta gastronomia. Ainda é um mercado de nicho, mas em crescimento, acompanhando a valorização de ingredientes naturais e funcionais.
Superalimento em expansão global
A regulamentação europeia que autorizou a comercialização do fruto em 2008 abriu caminho para o boom internacional. Desde então, o mercado de produtos derivados de baobá vem crescendo de forma consistente. A polpa em pó é exportada para países da Europa, Estados Unidos e Japão, movimentando bilhões de dólares anualmente.

Contudo, o desafio é equilibrar a exploração comercial com a preservação ambiental e o fortalecimento das comunidades locais. “É fundamental que a cadeia de produção do baobá envolva agricultores africanos de maneira justa, para que esse alimento continue sendo símbolo de resistência cultural e não apenas um produto de mercado”, reforça Paula.
Símbolo cultural e espiritualidade
Mais do que nutrir, o baobá é também um símbolo cultural profundo. Para diferentes povos africanos, representa a conexão entre o humano e o divino, sendo presença central em rituais e tradições. Suas flores, que duram apenas um dia, e sua forma imponente inspiraram lendas e mitos ao longo da história.
No Brasil, o baobá também é reverenciado, especialmente em comunidades afrodescendentes. “Ele nos lembra que nossas raízes estão vivas. Plantar e cuidar de um baobá é também um ato de resistência e memória coletiva”, afirma o chef Carlos Magalhães.