A regeneração dos biomas brasileiros acaba de ganhar um novo fôlego com o lançamento da segunda etapa do programa Floresta Viva, conduzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com um investimento inicial de R$ 100 milhões do Fundo Socioambiental do banco, a iniciativa tem potencial de ultrapassar R$ 250 milhões graças à entrada de novos parceiros públicos e privados.
A proposta é clara: restaurar ecossistemas, fortalecer comunidades e criar um modelo duradouro de restauração ambiental em regiões que, embora críticas, costumam receber menos atenção que a Amazônia.
Biomas estratégicos e biodiversidade como ativo
Nesta nova fase, o programa foca cinco importantes biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica. Esses territórios, historicamente impactados por desmatamentos e uso intensivo do solo, agora receberão projetos de restauração ecológica com espécies nativas e Sistemas Agroflorestais (SAFs). A combinação entre conservação ambiental e produção sustentável é uma das principais apostas do Floresta Viva 2, o que, segundo o próprio BNDES, permite alinhar regeneração da paisagem com geração de renda local.
Um dos diferenciais desta etapa é a inclusão de ferramentas de monitoramento para créditos de biodiversidade, reforçando o papel do Brasil no mercado emergente de ativos ambientais. Essa abordagem visa não apenas reflorestar áreas degradadas, mas também valorizar os serviços ecossistêmicos prestados por essas florestas, como regulação hídrica, sequestro de carbono e conservação da fauna nativa.
Mais do que reflorestar: transformar
Diferente da primeira edição, o Floresta Viva 2 adotará ciclos de seleção contínuos, o que permitirá mais agilidade na contratação dos projetos e respostas mais rápidas às necessidades locais. O edital para escolher a organização gestora já está disponível no portal do BNDES, e o anúncio oficial dos selecionados deve ocorrer durante a COP30.
A organização vencedora terá um papel estratégico: contratar e monitorar os projetos, capacitar lideranças comunitárias e estruturar redes de apoio, além de operar diretamente os recursos. A duração do contrato será de até seis anos, podendo ser prorrogada.
As entidades habilitadas para participar da seleção incluem organizações privadas sem fins lucrativos, autarquias e fundações públicas federais. Elas deverão comprovar robustez técnica e administrativa para gerir recursos dessa magnitude e para operar em múltiplos territórios, sempre em articulação com atores locais.
Benefícios que tocam a terra e as pessoas
O Floresta Viva é mais do que um programa ambiental: trata-se de uma política de reconstrução social e ecológica. Seus efeitos incluem desde a recuperação de nascentes e áreas de recarga hídrica, passando pela melhoria da qualidade da água, até o impulso à economia local, por meio de empregos verdes e fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis.
A estratégia do BNDES coloca em evidência o papel das organizações locais, valorizando saberes regionais e fomentando iniciativas que mesclam tradição e inovação. Assim, além do ganho ambiental, há também fortalecimento da soberania alimentar, protagonismo das comunidades e valorização da sociobiodiversidade.
Um histórico de resultados expressivos
A primeira fase do Floresta Viva já provou seu potencial. Foram mobilizados R$ 460 milhões, dos quais metade veio de parcerias com empresas e governos. A iniciativa lançou nove editais, apoiando mais de 60 projetos que cobrem 8.500 hectares em processo de restauração.
Entre os parceiros envolvidos destacam-se empresas e instituições como Petrobras, Banco do Nordeste, Fundo Vale, Energisa, Heineken, Norte Energia, Philip Morris, Eletrobras, além de fundações internacionais como o KfW Bankengruppe. Esse esforço coletivo conferiu ao BNDES o Prêmio Alide 2024, reconhecimento concedido pela Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento, que destacou o modelo como exemplo de articulação para promover conservação em escala.