Em um trabalho que reforça o valor da ciência na compreensão da biodiversidade, pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Instituto de Botánica Darwinion, na Argentina, revisaram recentemente o gênero Tamonea, pertencente à família Verbenaceae. A pesquisa, publicada no periódico Wildenowia em 30 de outubro, trouxe à luz uma nova visão sobre a taxonomia e a distribuição dessas plantas, além de descrever duas espécies inéditas encontradas no Nordeste do Brasil.
O gênero Tamonea está presente ao longo da Região Neotropical, abrangendo América do Sul, América Central e México. Essas plantas chamam atenção por suas flores delicadas e morfologia singular, que inclui corolas com guias de néctar — verdadeiras trilhas visuais que atraem polinizadores — e frutos parcialmente inseridos no cálice persistente, geralmente com quatro sementes que exibem pequenas protuberâncias em forma de chifre. Esse conjunto de características faz da Tamonea um grupo único e de grande interesse para a botânica.
Antes dessa revisão, o gênero havia sido estudado pela última vez em 2008 e era composto por seis espécies conhecidas, entre elas Tamonea curassavica, dividida em cinco variedades. Com a nova análise, os pesquisadores reconhecem agora 11 espécies válidas, sendo seis delas registradas no Brasil — quatro endêmicas, ou seja, encontradas exclusivamente em território nacional.

Entre as novidades da pesquisa estão duas novas espécies descritas para a ciência: Tamonea maxima e Tamonea pubescens. A primeira ocorre nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, adaptando-se tanto a áreas de Floresta Atlântica quanto à Caatinga. Já a segunda apresenta uma distribuição mais restrita, sendo identificada somente nos campos rupestres da Chapada Diamantina, na Cadeia do Espinhaço, região de notável diversidade biológica no interior da Bahia.
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A revisão de Tamonea não apenas amplia o conhecimento sobre a flora brasileira, mas também reforça a importância do trabalho com coleções de herbário, fundamentais para esclarecer dúvidas sobre a morfologia e a classificação das espécies. A análise detalhada do material botânico permitiu distinguir variações sutis entre exemplares e mapear sua distribuição geográfica, contribuindo para uma visão mais completa do gênero.
O estudo também ressalta a urgência em proteger áreas de alta riqueza biológica, como a Chapada Diamantina e os remanescentes da Mata Atlântica e da Caatinga. Esses ecossistemas, apesar de sofrerem intensa pressão antrópica, continuam revelando espécies inéditas e desempenham um papel essencial na manutenção do equilíbrio ambiental.
Texto original em inglês: https://bioone.org/journals/willdenowia/volume-55/issue-1/wi.55.17/Updates-on-the-taxonomy-nomenclature-and-geographic-distribution-of-Tamonea/10.3372/wi.55.17.full



