Em meio às águas cristalinas da bacia do rio Xingu, um pequeno peixe de aparência modesta acaba de protagonizar um capítulo inédito da biologia brasileira. Batizado cientificamente como Imparfinis arceae, esse novo representante dos bagres não apenas amplia a diversidade já impressionante da ictiofauna amazônica, como também reforça o papel crucial da ciência no reconhecimento de espécies até então ocultas nos detalhes da natureza.
A descoberta foi realizada por pesquisadores do Instituto de Biociências de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que conduziram um estudo minucioso envolvendo tanto análises morfológicas quanto genéticas. Segundo os cientistas, embora o peixe pertença ao gênero Imparfinis — conhecido por reunir espécies pequenas e adaptadas a rios de correnteza —, suas características eram distintas o suficiente para levantar suspeitas desde os primeiros encontros em campo.
Diferenças visíveis (e invisíveis) sob olhar atento
O que inicialmente despertou a curiosidade dos pesquisadores foi uma faixa escura que percorre toda a lateral do corpo do peixe. Embora esse traço também exista em outras espécies do mesmo grupo, a intensidade e a largura do traço observado nos novos exemplares destoava significativamente. Isso motivou a realização de um estudo comparativo com outras espécies do gênero, como a Imparfinis hasemani, que possui uma faixa similar, mas com padrões de coloração e proporção diferentes.
A equipe examinou cuidadosamente 20 indivíduos, medindo e comparando aspectos físicos como número de vértebras, diâmetro ocular e proporções da cabeça. A nova espécie revelou, por exemplo, possuir 39 vértebras — uma a menos do que a espécie comparada — além de olhos proporcionalmente menores e uma cabeça mais alongada. Esses elementos anatômicos foram fundamentais para distinguir o peixe recém-descoberto.
Ainda que a morfologia já fornecesse pistas sólidas sobre a novidade biológica, foi o estudo genético que trouxe a comprovação definitiva. Ao sequenciar o DNA dos exemplares, os pesquisadores identificaram uma divergência superior a 6% em relação às espécies previamente catalogadas dentro do mesmo gênero. Essa diferença genética expressiva serviu como confirmação de que os animais analisados não eram apenas variantes morfológicas de espécies já conhecidas, mas sim uma linhagem distinta.