Por muito tempo, o kakapo foi presença constante nos ambientes da Nova Zelândia, onde reinava como o papagaio mais abundante do arquipélago. Reconhecido por sua plumagem verde musgo, estrutura robusta e um jeito curioso de se locomover no chão, esse pássaro logo chamava atenção também por um detalhe raro: ele não voa. Essa característica, somada ao seu corpo pesado — com até 4 kg — garantiu ao kakapo o título de papagaio mais pesado do planeta.
Apesar de toda sua singularidade, a trajetória dessa espécie tomou um rumo trágico a partir da chegada dos humanos ao território neozelandês. O desmatamento para expansão agrícola e a introdução de predadores como gatos, ratos e furões romperam o equilíbrio natural da fauna nativa. A ave, que não tem mecanismos de defesa contra esses invasores, acabou virando presa fácil — e rapidamente viu sua população despencar.
Hoje, o kakapo é uma das espécies mais ameaçadas do planeta. Restam apenas cerca de 150 indivíduos adultos em áreas protegidas, monitorados constantemente por cientistas e voluntários em reservas isoladas. Mesmo assim, seu comportamento noturno, reprodutivo e alimentar segue fascinando pesquisadores e defensores da biodiversidade.
Uma ave que não voa, mas encanta
O nome “kakapo” vem da língua maori e significa literalmente “papagaio da noite”. E não por acaso: esse animal tem hábitos exclusivamente noturnos e se movimenta com calma pelas florestas, usando suas garras fortes e bico curvado para escalar troncos, galhos e encostas rochosas. Seu rosto arredondado e penas suaves lembram uma coruja, o que intensifica o mistério em torno de sua imagem.

Outro traço peculiar da espécie está no seu ciclo reprodutivo. As fêmeas do kakapo só entram em período fértil a cada dois a quatro anos, e mesmo assim, isso acontece apenas quando há fartura de uma fruta específica chamada rimu, que cresce nas florestas locais. Sem essa abundância, simplesmente não há acasalamento — o que torna a recuperação populacional ainda mais desafiadora.
Esforços de conservação que reacendem a esperança
Apesar do cenário preocupante, o kakapo não está sozinho em sua luta pela sobrevivência. Diversos programas de conservação têm atuado para preservar a espécie com apoio de governos, universidades e comunidades locais. E os esforços têm dado resultados promissores. Na última temporada reprodutiva, 76 filhotes nasceram sob monitoramento, um recorde histórico desde o início dos levantamentos. Estima-se que ao menos 60 deles devem alcançar a vida adulta.
Esse aumento não apenas representa um respiro para a espécie, mas também fortalece a dedicação de quem se envolve diariamente com sua proteção. O kakapo se tornou um verdadeiro símbolo do cuidado com espécies endêmicas, especialmente em regiões insulares onde o equilíbrio ecológico pode ser facilmente rompido por pressões externas.