A tranquilidade da praia do Guaraú, em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, foi interrompida por um episódio tão inusitado quanto fascinante. Durante um mergulho, o turista Rafael Marchezetti Correia flagrou o momento exato em que foi surpreendido por uma lagosta-boxeadora — uma criatura marinha de aparência vibrante e comportamento explosivo. O vídeo do encontro, registrado em maio e compartilhado nas redes sociais semanas depois, logo viralizou, despertando o interesse de biólogos e curiosos sobre o mundo subaquático.
Apesar do nome popular que remete às lagostas, a Odontodactylus scyllarus pertence a um grupo diferente de crustáceos conhecidos como estomatópodes. Também chamada de camarão-louva-a-deus-palhaço, a espécie impressiona não apenas pela coloração exuberante em tons de verde, azul e laranja, mas principalmente por deter o golpe mais veloz e potente de todo o reino animal.
O soco que desafia a física marinha
Dotada de apêndices anteriores chamados de dactyl clubs, a lagosta-boxeadora é capaz de desferir golpes com velocidade superior a 80 km/h, gerando uma força de impacto comparável à de um disparo de arma de fogo calibre .22. O ataque não termina no primeiro contato: o movimento também provoca cavitação — um fenômeno físico no qual pequenas bolhas de vapor colapsam, criando um segundo impacto que pode atordoar ou até matar suas presas.
Essa combinação de velocidade e pressão, que pode atingir 60 kg por centímetro quadrado, permite que a lagosta quebre cascos de caranguejos com facilidade e, em casos extremos, até mesmo trincar vidros de aquários, o que a torna uma verdadeira máquina natural de destruição em miniatura. O próprio Rafael, autor da gravação, ficou espantado com o poder do animal. “A força é absurda. Parece algo muito maior do que realmente é”, disse ao relatar o momento em que devolveu o crustáceo ao mar.
Uma visão que vai além do nosso alcance
A beleza da lagosta-boxeadora não se resume à sua força. Os olhos do animal são considerados entre os mais complexos do mundo natural. Eles são capazes de perceber luz polarizada e enxergar do espectro ultravioleta ao infravermelho, ampliando suas capacidades de caça e comunicação. Cada olho possui movimentos independentes e é dividido em três partes funcionais, permitindo uma percepção quase tridimensional de altíssima precisão — algo inatingível para qualquer ser humano.
Apesar de ser incomum no litoral brasileiro, a espécie é mais frequente em recifes de corais e tocas escondidas em fundos arenosos ou rochosos, especialmente em regiões tropicais do Indo-Pacífico. Vive entre 10 e 40 metros de profundidade, o que torna o registro feito em Peruíbe ainda mais raro e curioso.