Durante uma caminhada despretensiosa pelas trilhas da Fazenda Santa Helena, em Maria da Fé (MG), um raro espetáculo da natureza chamou a atenção de quem passava. Ali, entre árvores e campos de oliveiras, emergiu do solo uma planta quase desconhecida, de aparência carnosa e sem folhas verdes. A espécie em questão era a Helosis brasiliensis, uma planta parasita nativa do Brasil, pertencente à família Balanophoraceae, cuja presença é mais sentida sob o solo do que vista à superfície.
Essa planta holoparasita — que depende completamente de outras para sobreviver, sem realizar fotossíntese — é conhecida por viver de forma oculta, com a maior parte de sua estrutura enterrada, aparecendo somente no período de floração. A raridade do encontro é tamanha que até mesmo os especialistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) consideraram o registro um marco importante para o conhecimento botânico da região.
Redescoberta silenciosa em meio ao azeite mineiro
A Helosis brasiliensis foi identificada na mesma propriedade que abriga a produção do reconhecido Azeite Monasto. A descoberta veio pelas mãos da olivicultora Rosana Chiavassa, que, intrigada com a planta incomum avistada ao lado do filho, decidiu buscar ajuda do Campo Experimental da Epamig, também localizado em Maria da Fé. Após análise, a confirmação não deixou dúvidas: tratava-se de uma das espécies mais discretas e enigmáticas da flora sul-americana.

A equipe técnica realizou a coleta de amostras e encaminhou o material ao Herbário PAMG da Epamig, onde foi cuidadosamente prensado, seco e arquivado na forma de exsicatas — método tradicional de preservação botânica que também reúne dados sobre o local e as condições do achado. A iniciativa não apenas assegura o registro científico da planta como também reforça a relevância dos herbários no monitoramento ambiental contínuo.
Um novo ponto no mapa da biodiversidade
Embora já conhecida em estados como Bahia, Paraná, São Paulo e outras regiões do Sudeste, a Helosis brasiliensis não era frequentemente registrada em Maria da Fé. O novo achado amplia a área conhecida de distribuição da planta e fornece indícios sobre possíveis mudanças ecológicas no ecossistema da Serra da Mantiqueira, reforçando a importância da vigilância ativa mesmo em propriedades privadas e rurais.
A descoberta também destaca o papel de quem convive diariamente com a terra. O olhar atento da produtora rural somou-se à atuação científica da Epamig para garantir não apenas a identificação, mas também a preservação da espécie. Foi um gesto simples, mas que se transformou em contribuição direta para a ciência botânica brasileira.
Com mais de 59 mil amostras catalogadas, o Herbário PAMG é uma das principais referências em botânica de Minas Gerais. Desde 2020, o acervo passa por um processo de digitalização que já disponibilizou mais de 11 mil registros na plataforma SpeciesLink, permitindo acesso público a dados essenciais sobre a flora do país.