Para quem sonha com um jardim repleto de sombra e frescor, a figueira sempre foi uma escolha imponente. No entanto, junto à beleza de sua copa volumosa e galhos retorcidos, essa árvore carrega uma fama curiosa — e, para alguns, preocupante — de atrair serpentes. A crença popular não surgiu por acaso. Seu porte, folhas largas e frutos doces criam um microclima úmido e protegido, ideal para pequenos animais e, por consequência, para os predadores que deles se alimentam.
Segundo o biólogo Eduardo Marinho, especialista em fauna silvestre, as figueiras acabam funcionando como “estações naturais de alimento e abrigo”. Isso porque os frutos, quando caem e começam a se decompor, atraem roedores e insetos, que estão no topo da lista de presas das cobras. “Onde há alimento em abundância, a cadeia alimentar se estabelece. A figueira, sem querer, acaba sendo o epicentro dessa dinâmica”, explica.
Características que favorecem a presença de serpentes
O segredo dessa relação está no conjunto de elementos que a figueira oferece. Seus galhos formam fendas e sombras onde a umidade se mantém por mais tempo, criando um refúgio seguro para animais de pequeno porte. Ao mesmo tempo, o solo sob sua copa tende a acumular folhas secas e frutos, o que estimula a presença de insetos e pequenos mamíferos.

A paisagista Renata Tilli alerta que o problema pode se intensificar quando a figueira está próxima de entulhos, pilhas de madeira ou pedras. “Esses elementos funcionam como abrigos complementares, aumentando o número de presas e, consequentemente, a chance de visita de cobras”, afirma. Por isso, ela recomenda integrar o cultivo da figueira a um plano de manutenção preventiva.
Prevenção: como reduzir o risco no jardim
Embora a presença de cobras no ambiente doméstico seja rara, vale adotar cuidados simples para evitar surpresas. Manter o terreno limpo, retirando frutos caídos e folhas acumuladas, ajuda a quebrar a cadeia de atração de presas. Podas regulares, retirada de entulhos e organização de materiais de construção ou lenha também tornam o local menos convidativo para animais indesejados.
Renata lembra que um jardim bem cuidado, com o solo livre de excesso de matéria orgânica em decomposição, reduz a umidade excessiva e afasta tanto insetos quanto roedores. “Não é a figueira que chama as cobras, mas sim o conjunto de fatores que se forma em torno dela quando a manutenção é negligenciada”, reforça.