Resumo
- A apreensão de mais de 1 tonelada de cerejas no Aeroporto de Guarulhos evitou a entrada do ácaro Brevipalpus chilensis, praga quarentenária ausente no Brasil.
- O laudo do Mapa confirmou o risco fitossanitário, determinando a fumigação e destruição total da carga para impedir contaminações.
- O ácaro chileno ataca mais de 40 espécies vegetais e pode causar perdas de até 30% em parreirais, como já ocorre no Chile.
- Uvas, citros e kiwis estão entre as culturas brasileiras mais ameaçadas pelo falso ácaro vermelho, considerado de alto impacto econômico.
- A ação do Vigiagro reforça o papel da fiscalização em impedir a entrada de pragas e proteger a fruticultura e os sistemas produtivos nacionais.
A presença de uma praga invisível a olho nu, mas capaz de comprometer plantações inteiras, acendeu um sinal de alerta nas operações de vigilância agropecuária do Brasil. Em uma inspeção rotineira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, mais de 1.120 quilos de cerejas frescas vindas do Chile foram interceptados após a detecção do ácaro quarentenário Brevipalpus chilensis, conhecido por seu alto poder de destruição em cultivos agrícolas de valor comercial.
O laudo laboratorial, divulgado no dia 10 pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), confirmou a presença do ácaro na carga. Como medida de contenção fitossanitária, as frutas contaminadas serão fumigadas e, posteriormente, destruídas, de acordo com o protocolo previsto para pragas exóticas ausentes no país.
Uma ameaça silenciosa detectada a tempo
A operação que flagrou o problema aconteceu no dia 6, durante um processo de fiscalização conduzido pelo Vigiagro (Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional). Os fiscais encontraram suspeitas durante uma ação padrão e encaminharam amostras da carga para análise. O resultado confirmou o que se temia: o Brevipalpus chilensis, também conhecido como falso ácaro vermelho, estava presente.
Essa espécie não é encontrada em território brasileiro e sua ocorrência é restrita ao Chile e à província argentina de Rio Negro, no norte da Patagônia. Entretanto, sua capacidade de adaptação e reprodução coloca em risco mais de 40 espécies de plantas, que vão desde frutas como uva, laranja, limão e kiwi, até variedades ornamentais e florestais.
Fruticultura brasileira sob risco
O impacto do ácaro nas regiões onde já está presente é preocupante. No Chile, por exemplo, os meses mais quentes trazem consigo prejuízos consideráveis: até 30% de perda em parreirais afetados. Diante desse cenário, o Brasil mantém uma legislação rígida para evitar que organismos ausentes entrem e se disseminem, colocando em risco a produção local.
A lista de plantas hospedeiras do Brevipalpus chilensis inclui ainda caqui, figo e cherimoia, além de outras culturas de importância econômica e paisagística. Sua presença poderia desestabilizar áreas produtivas inteiras e comprometer exportações, algo que o setor agrícola brasileiro trabalha arduamente para evitar.
A barreira da prevenção: quando destruir é proteger
Embora pareça uma medida extrema, a destruição de toda a carga contaminada é a única forma eficaz de eliminar o risco. O Brasil adota o princípio da precaução máxima quando se trata de pragas quarentenárias, aquelas que não existem no país e têm alto potencial de dano.
O Vigiagro, órgão vinculado ao Mapa, tem justamente a missão de proteger as fronteiras agrícolas do Brasil, atuando nos portos e aeroportos com rigor técnico e protocolos eficientes. A interceptação bem-sucedida dessa carga mostra a eficácia do sistema brasileiro de vigilância agropecuária, que impede que ameaças entrem silenciosamente e comprometam a segurança alimentar e econômica.
Nesta ocorrência, mais de uma tonelada de cerejas será eliminada, mas o custo é considerado pequeno diante da possibilidade de uma infestação em território nacional. Assim, os pomares de uvas e citros brasileiros permanecem protegidos, ainda que, para isso, seja necessário tomar medidas drásticas.



