Mesmo sendo um dos maiores produtores e consumidores de café do mundo, o Brasil registrou uma retração significativa na demanda pela bebida nos primeiros oito meses de 2025. Entre janeiro e agosto, foram consumidas 9,56 milhões de sacas — uma redução de 5,41% em relação ao mesmo período do ano passado. A queda surpreende, sobretudo porque inclui os meses tradicionalmente mais frios, como junho e julho, quando historicamente o consumo costuma crescer.
Em junho, a retração foi de 3,33% frente a 2024. Já em julho, a baixa se intensificou, chegando a 11,33%. A mudança no comportamento do consumidor está diretamente ligada à escalada dos preços, que vem pressionando toda a cadeia do café — da lavoura à xícara.
Um mercado sob pressão: entre safras frustradas e clima instável
O cenário de alta nos preços internacionais, que chegaram a saltar 40% em apenas quinze dias durante agosto, expôs uma instabilidade inédita no setor. Parte dessa pressão veio da safra de arábica colhida em junho, cuja produção ficou abaixo do esperado, frustrando as projeções iniciais. Além disso, há uma expectativa de que a próxima safra, prevista para 2026, também seja impactada por fatores climáticos, principalmente o fenômeno La Niña, que tende a trazer chuvas irregulares e temperaturas mais amenas em regiões produtoras.
No início do ano, o mercado havia sido surpreendido por uma revisão para cima da colheita de robusta, o que inicialmente contribuiu para baixar os preços. Mas a reversão veio rápida: quando os números da safra total foram confirmados como menores, as cotações dispararam nas bolsas de Nova York e Londres, reforçando a volatilidade do setor.
Tarifas externas e concorrência global elevam os custos
Além das questões internas, o mercado brasileiro também foi atingido por alterações no cenário global. A imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos, um dos principais compradores, reconfigurou os fluxos de exportação e beneficiou países concorrentes, como Vietnã e Colômbia. Essas mudanças nos diferenciais de bolsa afetaram a competitividade do café brasileiro, tornando-o mais caro e menos atraente no exterior — o que, paradoxalmente, contribuiu para reduzir a oferta no mercado interno e pressionar ainda mais os preços ao consumidor.
Estoques em baixa e reajustes no varejo: consumidor sente no bolso
Com os estoques industriais nos menores níveis dos últimos anos e custos crescentes em toda a cadeia produtiva, os repasses ao consumidor final tornaram-se inevitáveis. Um novo reajuste de preços, que pode variar entre 10% e 15%, já começou a ser aplicado em setembro e deve continuar nos próximos dias, conforme a política comercial de cada empresa e as negociações com o varejo.
Diante desse cenário, os especialistas do setor apontam que, embora haja uma expectativa de recuperação na próxima safra, o curto prazo ainda será marcado por instabilidade e preços elevados. O comportamento do clima segue como principal fator de risco, e, até que a safra de 2026 se confirme robusta, a tendência é de que o café continue pesando no bolso — e esvaziando, ainda que temporariamente, a mesa dos brasileiros.