Com o relógio correndo contra os interesses comerciais do Brasil, o agronegócio nacional protagonizou um salto expressivo nas exportações pelo Porto de Santos nas semanas que seguiram o anúncio do novo pacote tarifário dos Estados Unidos. A reação imediata dos exportadores foi tentar garantir que suas mercadorias cruzassem o Atlântico antes que as taxas passassem a valer. E o resultado foi visível: os embarques de carne bovina cresceram 96% e os de café aumentaram 40%, de acordo com dados da Autoridade Portuária de Santos (APS).
A movimentação atípica refletiu um esforço coordenado dos principais polos agroindustriais do país, que viram no curto intervalo entre o anúncio e a vigência das novas tarifas uma janela estratégica. “Os percentuais podem ser interpretados como uma corrida para a carga chegar aos EUA antes do tarifaço. Tanto que agora não se nota mais esse movimento, por conta do tempo mínimo de viagem de 14 dias até os Estados Unidos”, explica Anderson Pomini, presidente da APS. Segundo ele, a tendência já se reverteu, e os embarques voltaram à média anterior.
Porto de Santos: elo vital entre o campo e o mundo
O Porto de Santos, responsável por cerca de 30% da corrente comercial brasileira, tem papel central na logística de exportação do agronegócio. Com sua estrutura, o ancoradouro atende diretamente estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que juntos representam mais da metade do Produto Interno Bruto do Brasil e são líderes na produção de commodities agrícolas.
Apenas no ano passado, o terminal movimentou R$ 200 bilhões em tarifas federais, com destaque para o escoamento de 95% do algodão, 95% do suco de laranja, 71% do café e do açúcar, 65% da carne bovina, 42% do milho e 28% da soja brasileira. Esse volume confirma a vocação estratégica do porto para o agronegócio, e justifica a corrida para antecipar as remessas em meio à instabilidade comercial.
Estados Unidos sob tensão: segunda maior rota do Porto de Santos
Ainda que a China se mantenha como o principal destino das exportações brasileiras via Santos, com 47,1% do volume total, os Estados Unidos ocupam a segunda posição, com 22,2%. A movimentação de cargas com os norte-americanos inclui produtos como petróleo bruto, semimanufaturados de ferro e aço, carne bovina congelada, café, sucos de frutas e celulose, o que reforça a dependência do comércio bilateral.
Segundo Pomini, o tarifaço anunciado pela gestão Trump serviu como um gatilho, e os embarques foram rapidamente ajustados para garantir que as mercadorias escapassem do aumento de tributos. “Já não há mais tempo útil para novas cargas chegarem antes do início da vigência, então o que tivemos foi um pico momentâneo, não uma tendência de longo prazo”, afirma o dirigente da APS.
Estratégia, impacto e sinal de alerta
O episódio evidencia a vulnerabilidade do agronegócio nacional a choques externos, especialmente quando envolvem mercados relevantes como o norte-americano. Para Anderson Pomini, o episódio reforça a necessidade de estratégias logísticas mais ágeis e monitoramento constante das variáveis internacionais. “Esse tipo de movimentação pontual mostra como o setor precisa estar preparado para reagir rápido às mudanças no cenário global.”