O mercado de ovos do Brasil vive um novo capítulo. Duas semanas após a imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações da proteína para os Estados Unidos, os embarques foram oficialmente suspensos pelas empresas brasileiras. A paralisação, embora não configurada como bloqueio formal, é reflexo direto de uma medida comercial que alterou o cenário promissor vivenciado desde meados de 2024, quando o país se tornou um dos principais fornecedores da proteína ao mercado norte-americano.
A decisão de interromper os envios se deu em caráter preventivo. Isso porque, até o momento, não há um acordo específico entre Brasil e EUA para a exportação contínua de ovos. As remessas ocorriam mediante licenças provisórias, criadas diante de uma necessidade emergencial gerada pelos surtos de Influenza Aviária que afetaram gravemente as granjas nos Estados Unidos. Desde então, o Brasil passou a suprir parte da demanda com um volume crescente de ovos, aproveitando a janela aberta por uma crise sanitária internacional.
Com o novo cenário tributário em vigor desde 6 de agosto, o setor passou a agir estrategicamente. Antes mesmo da efetivação da tarifa, as empresas adiantaram embarques e criaram um estoque acima do habitual nos EUA, funcionando como uma espécie de colchão temporário de abastecimento. Essa manobra, segundo fontes da indústria, foi fundamental para mitigar impactos imediatos nas operações internacionais.
Entretanto, a perspectiva de retomada do comércio com os Estados Unidos ainda depende de negociações que envolvem não apenas isenções ou exceções tarifárias, mas também acordos mais sólidos para garantir previsibilidade aos exportadores brasileiros. Enquanto isso, o setor se movimenta em busca de novos caminhos, como explica uma fonte ligada ao comércio internacional: “Há tratativas em andamento para reabrir o mercado chileno e avançar com a entrada da proteína no mercado de Angola. Esses países surgem como rotas alternativas diante da instabilidade norte-americana.”
Os números mostram o impacto que a demanda dos EUA teve na balança exportadora do Brasil. De janeiro a julho deste ano, foram embarcadas mais de 18 mil toneladas de ovos para os Estados Unidos — um salto de mais de 1.400% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume representou impressionantes 63% das exportações brasileiras totais no período, que somaram pouco mais de 30 mil toneladas.
Apesar do crescimento expressivo das exportações, é importante destacar que o envio de ovos ao exterior ainda representa uma fração modesta da produção nacional. A estimativa da indústria é de que, até o fim de 2025, o país alcance a marca de 62 mil toneladas destinadas ao mercado externo — o equivalente a apenas 1% do total produzido. Ainda assim, o resultado simboliza uma alta de 7,5% em comparação com o ano anterior, consolidando uma tendência de expansão gradual nas vendas internacionais.