O mercado físico do boi gordo atravessa setembro com sinal de alerta para os pecuaristas. Apesar do bom desempenho das exportações de carne bovina, os preços da arroba não reagem e seguem em trajetória de recuo.
A combinação de escalas de abate alongadas nos frigoríficos e a valorização do real frente ao dólar tem imposto um teto para as cotações, criando um ambiente de firmeza sem espaço para altas consistentes.
Escalas de abate confortáveis pressionam o mercado
Nas principais praças pecuárias do país, os frigoríficos operam com escalas de abate preenchidas para os próximos dias, o que reduz a necessidade de disputas por animais no mercado spot. Parte desse conforto operacional vem do volume elevado de bois entregues via contratos a termo, que têm ganhado força nos últimos meses e agora ajudam a abastecer os frigoríficos sem necessidade de compras adicionais no mercado físico.
Esse cenário acaba refletindo diretamente nas negociações, com as indústrias exercendo maior poder de barganha e ofertando valores mais baixos pela arroba, o que tem sido aceito por muitos pecuaristas diante da dificuldade de reação do mercado neste momento.
Câmbio valorizado e juros altos reduzem margem da exportação
A taxa de câmbio, que em outros momentos foi uma grande aliada da exportação, agora atua como limitador. Com o real valorizado e os juros em patamares elevados no Brasil, o dólar opera nos menores níveis do ano, o que encurta as margens da indústria exportadora. Mesmo com o volume de carne embarcada em alta, a remuneração em reais sofre impacto direto, tornando o pagamento de preços mais elevados ao produtor uma operação menos viável para os frigoríficos.
Exportações crescem, mas não sustentam alta
A força das exportações, por si só, não tem sido suficiente para mudar o rumo dos preços internos. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou 137,2 mil toneladas de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada nos primeiros dez dias úteis de setembro, com uma média diária de 13,7 mil toneladas. O valor médio da tonelada exportada foi de US$ 5.617,40, e o faturamento no período já alcança US$ 771 milhões — um aumento expressivo de 42,6% em valor, 14,6% em volume e 24,4% em preço médio na comparação com setembro do ano passado.
Apesar do desempenho robusto nas vendas externas, o câmbio menos favorável tira fôlego da indústria na hora de remunerar melhor o pecuarista. Com isso, o mercado interno permanece travado, com viés de queda até o fim de setembro. A demanda internacional é o único fator de sustentação, mas ainda insuficiente para reverter a pressão vinda da oferta e das condições econômicas domésticas.
Expectativa é de estabilidade com viés baixista
Para o restante do mês, a tendência é de um mercado com preços estáveis, porém pressionados. O cenário de escalas confortáveis e câmbio desfavorável deve continuar pesando, enquanto a demanda externa se mantém firme, mas não o bastante para impulsionar uma reação significativa nas cotações. O ritmo das exportações seguirá como fator de observação, mas sem grandes perspectivas de valorização para a arroba até o fim de setembro.