Durante os dias 7 e 8 de novembro, Alagoinhas, no interior da Bahia, se transformou no epicentro da inovação em bebidas fermentadas com a realização do Congresso Internacional da Cerveja (Conib 2025), parte da programação do Bahia Beer Festival. Mais do que um evento técnico, o encontro se firmou como um espaço de excelência científica, revelando como a pesquisa baiana está moldando os rumos da produção cervejeira com foco em sustentabilidade, inovação e aproveitamento de recursos naturais.
Com o apoio da Prefeitura de Alagoinhas e da Secretaria de Turismo da Bahia, o Conib e o Brazilian International Beer Awards reforçaram a imagem da cidade como um polo nacional e latino-americano de conhecimento no setor. Para o prefeito Gustavo Carmo, a presença das universidades públicas e privadas da Bahia reforça esse protagonismo. “As pesquisas apresentadas mostram como nossa região está preparada para unir tecnologia, tradição e responsabilidade ambiental na cadeia produtiva da cerveja”, afirma.
Pesquisas transformam ingredientes locais em inovação fermentada
Instituições como a UEFS, UFRB, UFBA, UNIFACS e IFBA levaram ao congresso propostas ousadas que unem ciência aplicada e identidade regional. Entre os destaques, o estudo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) sobre a adição de mel e cardamomo em cervejas artesanais chamou atenção pelos resultados expressivos em propriedades físico-químicas. Os ingredientes naturais, além de alterarem o pH e o teor alcoólico, conferiram nuances sensoriais que ampliam o repertório criativo dos mestres cervejeiros. Para os pesquisadores, trata-se de um passo relevante na construção de bebidas com identidade local e apelo gourmet.
Ainda na UFRB, outra iniciativa surpreendeu ao testar o uso de mel de Apis mellifera como substituto do açúcar na fermentação de kombucha. O resultado? Uma bebida funcional mais nutritiva e alinhada com práticas sustentáveis. O impacto sobre o sabor e a acidez foi positivo, mostrando que a substituição pode beneficiar tanto o consumidor quanto o meio ambiente.
Resíduos agroindustriais ganham novo valor na cervejaria artesanal
A temática da sustentabilidade também esteve presente em estudos desenvolvidos por pesquisadores da UFBA e da UNIFACS, que investigaram a viabilidade de uso da polpa do café (Coffea arabica) como adjunto na fabricação de cervejas. Considerada um resíduo da cadeia cafeeira, a polpa foi incorporada ao processo sem comprometer a fermentação, resultando em uma bebida inovadora e de menor impacto ambiental. “É um exemplo claro de como a engenharia pode criar soluções sustentáveis a partir de subprodutos que antes seriam descartados”, pontua a professora Elaine Albuquerque, doutora em Engenharia Química pela UFBA.
A pesquisadora também destaca que os trabalhos apresentados no congresso evidenciam a capacidade de conexão entre gastronomia, agronomia e tecnologia, com soluções que valorizam ingredientes regionais e reduzem a pegada ecológica do setor. “Estamos avançando não apenas no sabor, mas na forma como produzimos, pensando no futuro do planeta e da economia local”, completa Elaine.
Conib 2025 valoriza o conhecimento técnico e aproxima os estudantes da prática científica
O Congresso Internacional da Cerveja não apenas impulsiona a ciência aplicada, mas também tem papel estratégico na formação de novos talentos. A professora Iara Barreto, assessora da Direção Geral do IFBA, enfatiza o valor do evento para os estudantes. “Por ser um congresso gratuito e de grande visibilidade, o Conib oferece uma oportunidade única de networking e aprendizado direto com os protagonistas da pesquisa no Brasil”, comenta. Para ela, iniciativas assim fortalecem a ponte entre academia e mercado, aproximando os futuros profissionais das demandas reais da indústria de bebidas fermentadas.
As apresentações científicas acontecem na Mostra Oficial do Conib 2025, no hotel Absolar, em Alagoinhas, sempre às 17h30, e reforçam o compromisso do congresso com a excelência técnica e a inovação colaborativa. Com foco em soluções funcionais, sustentáveis e viáveis economicamente, os estudos apresentados mostram que a Bahia não é apenas terra de sabores marcantes, mas também de ideias revolucionárias no universo das bebidas artesanais.



