Com nome discreto, mas potencial devastador, o bicudo-vermelho-das-palmeiras já é visto pelas autoridades agrícolas como um dos principais riscos emergentes ao agronegócio nacional. Nativo do continente africano, o inseto da espécie Rhynchophorus ferrugineus foi oficialmente detectado no Brasil em janeiro de 2022, despertando preocupação crescente em setores que dependem diretamente das palmeiras — especialmente as culturas de coco, dendê e palmito pupunha, além das espécies ornamentais amplamente utilizadas no paisagismo.
Desde sua identificação no estado de São Paulo por uma equipe técnica do Instituto Biológico, com confirmação feita por análises taxonômicas e moleculares, o besouro tem sido alvo de monitoramento constante. Ainda que discreto à primeira vista, o avanço da praga tem sido silencioso e progressivo. Indícios apontam que sua entrada no território nacional teria ocorrido pelo Rio Grande do Sul, proveniente do Uruguai, através do trânsito irregular de mudas contaminadas. A partir daí, surgiram registros em outros estados, como Minas Gerais, evidenciando o risco de dispersão territorial.
O impacto direto sobre palmeiras produtivas e ornamentais
O perigo do bicudo-vermelho está no ciclo reprodutivo da espécie. As fêmeas perfuram os tecidos da planta para depositar seus ovos, e as larvas, ao emergirem, alimentam-se do palmito e dos tecidos internos, comprometendo o desenvolvimento da planta. Esse processo provoca danos irreversíveis e leva, muitas vezes, à morte da palmeira, especialmente em fases jovens ou em exemplares de grande porte cultivados em maciços ou fileiras.
Embora o impacto visual possa ser sutil no início, os prejuízos econômicos e ecológicos podem ser expressivos. Em experiências observadas fora do Brasil, especialmente na Europa e no Oriente Médio, a disseminação desse besouro foi responsável pela destruição em larga escala de palmeiras nativas e cultivadas, afetando cadeias produtivas inteiras e ecossistemas locais.
A ameaça não se restringe ao campo produtivo. Jardins botânicos, parques urbanos e projetos de paisagismo também estão na linha de frente do risco, já que muitas palmeiras exóticas ornamentais utilizadas em ambientes urbanos estão entre as espécies vulneráveis à infestação.
Monitoramento técnico e estratégias de contenção
Para conter o avanço da praga e preservar a integridade das plantações, o Estado de São Paulo reforçou as ações de vigilância fitossanitária por meio da Coordenadoria de Defesa Agropecuária e do Instituto Biológico. Além da fiscalização intensiva em viveiros e pontos de venda de mudas, as autoridades vêm promovendo capacitações técnicas voltadas a engenheiros agrônomos e fiscais estaduais.
Esses treinamentos abordam o reconhecimento visual da praga em todas as fases do ciclo de vida — desde os ovos até o inseto adulto — e ensinam como identificar os sintomas iniciais da infestação nas plantas, como perfurações, secreções e coloração alterada no estipe. Outro foco do trabalho são os protocolos de monitoramento preventivo, que incluem armadilhas com feromônio sexual, inspeções visuais rotineiras e análises laboratoriais de amostras suspeitas.
Além disso, toda a movimentação de mudas e palmeiras exige documentação fitossanitária obrigatória, como o CFO (Certificado Fitossanitário de Origem), o CFOC (Certificado de Origem Consolidado) e o PTV (Permissão de Trânsito de Vegetais). Esses documentos são exigidos para garantir a rastreabilidade e reduzir o risco de disseminação acidental do bicudo-vermelho entre estados e regiões.
Cooperação institucional e resposta integrada
As ações realizadas no Estado seguem as diretrizes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que estabeleceu estratégias nacionais para lidar com organismos considerados quarentenários. Isso significa que a presença do bicudo-vermelho não só representa uma ameaça local, mas se insere em um contexto de segurança fitossanitária nacional.