Uma pesquisa desenvolvida no interior de São Paulo encontrou nos resíduos da laranja uma oportunidade para criar um bioplástico mais resistente e ambientalmente amigável. Casca, sementes, membranas e a parte branca que reveste a fruta, normalmente descartadas após o processamento industrial, foram transformadas em um pó rico em fibras e pectina. Esse material foi combinado ao alginato de sódio, composto natural extraído de algas marinhas, resultando em um plástico biodegradável com maior firmeza e resistência térmica.
O método surgiu como resposta a uma limitação frequente nos bioplásticos à base de alginato: a baixa durabilidade e a alta absorção de água, que comprometem seu uso em diversas aplicações. A incorporação do pó de laranja alterou significativamente essa característica, tornando o material menos vulnerável à umidade e mais estável.
Do pomar ao laboratório
Para chegar à formulação final, os resíduos passaram por um processo de limpeza, secagem e trituração, até atingirem granulometria uniforme. Testes laboratoriais comprovaram que o aumento na concentração do pó potencializou a resistência térmica do material. Além de melhorar o desempenho mecânico, essa abordagem representa um destino nobre para parte dos milhões de toneladas de subprodutos gerados pela indústria de suco de laranja no Brasil.
O país, maior produtor e exportador mundial da fruta, concentra sua produção no estado de São Paulo, responsável por cerca de 80% da safra nacional. A maior parte dos resíduos ainda é descartada ou tem uso limitado na fabricação de rações, adubos e óleos essenciais. Transformá-los em matéria-prima para a indústria de embalagens poderia abrir novas frentes econômicas e ambientais.
Impacto no cenário global de plásticos
Segundo estimativas internacionais, a produção mundial de plásticos biodegradáveis deve alcançar 7,4 milhões de toneladas até 2028. Nesse contexto, iniciativas como a brasileira contribuem não apenas para reduzir a dependência dos plásticos derivados de petróleo, mas também para dar destino útil a resíduos que, de outra forma, representariam um desafio ambiental.
Atualmente, de acordo com a ONU, apenas 9% das 430 milhões de toneladas de plásticos convencionais gerados a cada ano são reciclados. O restante permanece no ambiente por décadas, agravando a poluição em solo, rios e oceanos. Tecnologias que utilizam fontes renováveis e degradáveis podem ajudar a mudar esse cenário.