Resumo
- A startup Bricoffee transforma borra de café em pellets ecológicos, criando uma alternativa limpa à lenha tradicional e contribuindo para a economia circular.
- O projeto nasceu em 2019 no Paraná e foi oficializado em 2022, com tecnologia patenteada que reaproveita resíduos agroindustriais com alto poder energético.
- Os pellets são utilizados em fornos, aquecedores e sistemas residenciais, substituindo madeira e ajudando a evitar o desmatamento.
- A empresa já produz 12 toneladas diárias e projeta dobrar a capacidade até 2026, impulsionando a geração de energia limpa no país.
- A iniciativa fortalece o Brasil no mercado de créditos de carbono, ao reduzir emissões e transformar um resíduo abundante em fonte de valor.
A borra de café, resíduo cotidiano presente em milhares de lares brasileiros, ganhou um destino surpreendentemente sustentável pelas mãos de um empreendedor do Paraná. O que antes era apenas um rejeito orgânico com cheiro forte e decomposição lenta agora se transforma em biomassa limpa, ajudando a reduzir o impacto ambiental e oferecendo uma alternativa real à lenha convencional. Essa é a proposta da Bricoffee, uma startup que nasceu durante a pandemia e se consolidou como um exemplo de como a economia circular pode ir além da teoria.
A origem do projeto carrega a simplicidade das grandes ideias. Em 2019, ao observar um saco de lixo contendo borra de café seco, o corretor de proteína animal Luiz Zolet percebeu que ali havia potencial. O aroma persistente e a textura do resíduo revelavam que o material ainda carregava energia. A partir dessa percepção, vieram os testes, as pesquisas e o desenvolvimento de um método capaz de transformar a borra em pellets — pequenos cilindros de biocombustível sólido, também chamados de lenha ecológica.
A proposta da Bricoffee foi oficializada em 2022 e se apoia em um dado alarmante: o Brasil descarta cerca de 8 mil toneladas de borra de café todos os dias, com destino quase sempre ao aterro sanitário. A startup decidiu inverter essa lógica, retirando esse passivo ambiental do ciclo do lixo e reinserindo-o na cadeia produtiva como energia. E mais: o processo ainda abre portas para a geração de créditos de carbono, posicionando a empresa no mapa das soluções climáticas emergentes.
Com apoio de uma incubadora e incentivo público estadual, a produção começou com foco na borra de café solúvel. O material, após passar por etapas de secagem, extrusão e compactação, dá origem a um pellet de alto poder calorífico, com desempenho superior ao da madeira de pinus e eucalipto. Isso significa mais energia por menos volume e menor impacto ambiental, já que não há necessidade de corte de árvores. A decomposição natural da borra, que levaria cerca de dois meses, é assim substituída por um uso imediato como fonte energética limpa.
Para garantir exclusividade tecnológica, o processo de fabricação foi submetido a patente junto ao INPI. A inovação não está apenas no produto final, mas no método que viabiliza o aproveitamento de resíduos agroindustriais diversos, com padronização de qualidade e eficiência. Em 2024, a sede da empresa foi transferida para Varginha (MG), cidade-símbolo da produção cafeeira nacional, facilitando o acesso à matéria-prima em larga escala.
Atualmente, a planta industrial da Bricoffee tem capacidade de produção diária de 12 toneladas, mas os planos são ambiciosos: até meados de 2026, a meta é duplicar esse número, atingindo 25 toneladas por dia. Essa escalada acompanha o crescimento da demanda por soluções energéticas sustentáveis, tanto no setor industrial quanto em estabelecimentos comerciais e residenciais.
Além da performance técnica, os pellets da Bricoffee se destacam por integrar um modelo claro de economia circular. O que era resíduo se transforma em valor. O que antes era um desafio ambiental passa a ser parte da solução. E como combustível, os pellets têm uso diversificado: vão desde fornos industriais até sistemas de aquecimento em hotéis, granjas, clubes e casas que apostam na sustentabilidade sem abrir mão de eficiência.
A iniciativa coloca o Brasil em posição estratégica para atuar no mercado global de créditos de carbono, mecanismo que premia projetos com capacidade comprovada de reduzir emissões. Transformar toneladas de borra em energia significa, na prática, menos emissões de metano decorrentes da decomposição e menos árvores derrubadas para produção de lenha tradicional.
Com isso, a Bricoffee não apenas reaproveita resíduos: ela mostra como a criatividade pode ser uma aliada poderosa da sustentabilidade. Em tempos em que o planeta exige mudanças urgentes, é simbólico que um dos combustíveis do futuro esteja escondido justamente no fundo da xícara.



