Resumo
• O Programa Nacional de Rastreabilidade Voluntária marca uma nova fase de transparência no agro, acompanhando cada etapa da produção brasileira.
• A iniciativa integra o Programa Brasil Agro Mais Sustentável e responde às exigências globais por práticas agrícolas monitoradas e responsáveis.
• O sistema registra desde as boas práticas no campo até o transporte e a chegada ao consumidor, criando uma cadeia de custódia totalmente rastreável.
• A rastreabilidade beneficia produtores de todos os portes, além de trazer mais segurança e eficiência para caminhoneiros e operadores logísticos.
• O governo reforça que a medida fortalece a competitividade do país, amplia a confiança internacional e contribui para um agro mais moderno e seguro.
O agronegócio brasileiro entrou em uma nova fase com o lançamento do Programa Nacional de Rastreabilidade Voluntária (PNRV), apresentado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária durante a COP 30, em Belém. A iniciativa nasce como parte essencial do Programa Brasil Agro Mais Sustentável e representa uma mudança significativa na forma como o país monitora sua produção, conectando informações desde a fazenda até o balcão do consumidor. Segundo o secretário-executivo do Mapa, Irajá Lacerda, trata-se de uma ferramenta capaz de iluminar cada elo da cadeia produtiva, garantindo confiança, segurança e eficiência.
Ao explicar o conceito, Lacerda destacou que a rastreabilidade deve funcionar como uma “cadeia de custódia”, capaz de registrar boas práticas, acompanhar o deslocamento de cargas e assegurar informação precisa aos mercados nacionais e internacionais. Em entrevista à Voz do Brasil, ele reforçou que o sistema nasce em um contexto de exigências mais rigorosas, já que a abertura de mais de 470 mercados no último ano ampliou a necessidade de demonstrar responsabilidade ambiental e transparência operacional.
O contexto das políticas públicas e o apoio ao produtor rural
Entretanto, antes de entrar nos detalhes da rastreabilidade, Lacerda abordou um tema sensível ao setor: as dívidas rurais e as dificuldades enfrentadas por agricultores impactados por eventos climáticos extremos. Segundo ele, é preciso diferenciar duas frentes de atuação. De um lado, o Manual de Crédito Rural define regras para que instituições financeiras operem recursos subsidiados; de outro, surgem medidas emergenciais destinadas a regiões que enfrentam quebras de safra, desastres naturais e perdas severas.
O secretário reconheceu que boa parte das reclamações de produtores está relacionada justamente ao não cumprimento dessas normas pelos bancos. Por isso, afirmou que o governo federal trabalha para garantir que os agricultores não sejam prejudicados por práticas inadequadas e para ampliar o alcance do auxílio emergencial — especialmente porque, além dos 1.400 municípios contemplados pela medida provisória, outros quase mil também registraram eventos climáticos relevantes. Como o recurso público é limitado, Lacerda explica que é fundamental estruturar políticas eficientes para que o apoio chegue a quem realmente precisa, sem atrasos e com segurança jurídica.
Transparência como resposta às exigências globais
Quando aborda diretamente a rastreabilidade, Lacerda destaca que ela se consolida como resposta natural às novas demandas do mercado internacional. O salto tecnológico da agropecuária brasileira nas últimas décadas colocou o país em posição de destaque, mas também sob maior escrutínio. A rastreabilidade, nesse sentido, se torna um componente estratégico: organiza informações, padroniza procedimentos e comprova a adoção de boas práticas.
Integrado ao Programa Brasil Agro Mais Sustentável, o PNRV funciona ao lado de outras iniciativas de verificação e monitoramento, compondo um arcabouço capaz de demonstrar a solidez do agro nacional. A proposta é acompanhar cada etapa — da implementação das práticas agrícolas ao plantio, da colheita ao transporte, do transporte ao porto ou ponto de venda, tudo armazenado em um ambiente público e acessível. Segundo Lacerda, esse fluxo contínuo garante transparência e fortalece a reputação do país.
Dos grãos à logística: segurança para quem produz, transporta e consome
O modelo de rastreabilidade proposto pelo Mapa vai além do simples registro de origem. Ele acompanha o processo em tempo real, mostrando como cada operação evolui e quais procedimentos foram adotados. Nesse ponto, Lacerda chama atenção para um grupo que também será beneficiado: os operadores logísticos.
Na visão do secretário, caminhoneiros e transportadores ganham protagonismo no novo sistema. A possibilidade de carregar, descarregar e retornar com segurança, em um ambiente onde todas as informações são claras e rastreáveis, reduz riscos e amplia a confiança entre produtores, compradores e transportadores. “Esse programa vai trazer transparência e segurança para todos os brasileiros”, afirmou.
Rastreabilidade acessível a todos os tamanhos de produção
Embora o conceito remeta a estruturas complexas, Lacerda enfatiza que o PNRV não foi criado apenas para grandes grupos do agro. A proposta é inclusiva e adapta-se a propriedades pequenas, médias e grandes. Como o monitoramento foca processos e não apenas volumes, qualquer produtor pode participar e se beneficiar da agregação de valor proporcionada pelo sistema — seja para fortalecer sua presença no mercado interno, seja para atender a requisitos de exportação.
Além disso, o secretário reforça que a rastreabilidade oferece ganhos logísticos, amplia a qualidade da gestão rural e melhora a percepção pública sobre a produção nacional. Para ele, a iniciativa inaugura uma etapa em que a competitividade brasileira nasce não apenas da produtividade, mas também da transparência.



