Resumo
• A Estratégia Alimenta Cidades será ampliada para até mil municípios a partir de 2026, reforçando políticas alimentares urbanas e o combate à insegurança nutricional.
• A iniciativa prioriza territórios periféricos, especialmente regiões classificadas como desertos e pântanos alimentares, ampliando o acesso a alimentos saudáveis.
• O programa Alimenta +1000 fortalece o Sisan, aprofunda o mapeamento da agenda alimentar urbana e estrutura rotas específicas de implementação para cada município.
• Mudanças climáticas e desigualdades reforçam a urgência de sistemas alimentares robustos, tema destacado pelo MDS durante o lançamento da nova fase da estratégia.
• A adesão ocorrerá via Plataforma Alimenta Cidades, com prioridade para municípios do Protocolo Brasil Sem Fome e regiões Norte e Nordeste.
Garantir acesso contínuo a alimentos de qualidade e enfrentar desigualdades nutricionais deixou de ser apenas um objetivo social: tornou-se um eixo estruturante das políticas públicas urbanas no Brasil. É dentro desse cenário que a Estratégia Alimenta Cidades, criada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), ganha dimensão renovada.
Depois de avançar pelas fases iniciais e consolidar aprendizados em campo, a política anuncia sua expansão para até mil municípios a partir de 2026, marcando um novo capítulo no enfrentamento da fome e no fortalecimento dos sistemas alimentares urbanos.
A expansão Alimenta +1000 e sua força transformadora
O programa ampliado, batizado de Alimenta +1000, surge para reforçar o compromisso do MDS com cidades que enfrentam desafios profundos, especialmente aquelas marcadas por desertos e pântanos alimentares. Nessas regiões, o acesso a produtos frescos e nutritivos costuma ser limitado, e a vulnerabilidade social se intensifica. Por isso, a iniciativa busca não apenas ampliar a cobertura, mas também aprimorar a capacidade das cidades de planejar, gerir e fortalecer políticas alimentares sustentáveis.
Segundo Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, a estratégia é uma oportunidade concreta de reorganizar o diálogo sobre alimentação nas cidades. “Estamos chamando a atenção dos municípios para ampliar o acesso aos alimentos saudáveis para a população vulnerável que sofre com a insegurança alimentar.” A fala reforça o papel central do programa em reestruturar práticas alimentares e em convocar gestores públicos a assumirem protagonismo na construção de modelos mais resilientes de abastecimento.
Implementação, mapeamentos e o avanço do Sisan
Além da expansão numérica, o MDS tem investido na construção de rotas de implementação que respeitam as particularidades de cada território. O mapeamento da agenda alimentar urbana — realizado em todas as cidades que integram a estratégia — permite identificar gargalos, vocações locais e caminhos possíveis para políticas de longo prazo. Assim, a consolidação da iniciativa também fortalece o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), que ganha maior capilaridade e incidência nas esferas municipais.
Rahal ressalta a importância desse momento: “Chegar a mil municípios significa avançar com a implementação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, chamar mais atenção sobre a importância de termos agendas alimentares e o quanto essa agenda é central em nosso país.” Além disso, a expansão cria condições para que estados e municípios articulem ações mais coordenadas, ampliando o alcance e a eficiência das políticas públicas.
Mudanças climáticas, acesso à alimentação e urgência das políticas urbanas
Com o agravamento dos eventos climáticos extremos, garantir segurança alimentar tornou-se ainda mais desafiador. No webinário de lançamento do Alimenta Cidades +1000, a secretária extraordinária de Combate à Pobreza e à Fome do MDS, Valéria Burity, destacou como o novo regime climático exige respostas urgentes. “Estamos em um contexto de um novo regime climático, que traz muitos desafios para a produção, oferta e acesso de uma alimentação saudável e de qualidade. Por isso, é tão importante a gente ter um sistema de segurança alimentar forte e a Estratégia Alimenta Cidades dialoga com todos esses desafios”, afirmou.
Essa perspectiva reforça o papel da estratégia não apenas como política de combate à fome, mas como instrumento de adaptação urbana diante das transformações do clima. Garantir que populações vulneráveis tenham acesso constante a alimentos adequados torna-se, assim, parte essencial de uma agenda mais ampla de resiliência socioambiental.
Territórios prioritários e a urgência de reduzir desigualdades
A estratégia segue centrada em territórios periféricos urbanos, onde a insegurança alimentar se manifesta com mais intensidade. Nessas áreas, são comuns regiões classificadas como desertos alimentares — locais onde a oferta de alimentos frescos e nutritivos é quase inexistente — ou pântanos alimentares, marcados pela predominância de produtos industrializados, ultraprocessados e de baixo valor nutricional. Ao ampliar seu alcance, o programa busca permitir que mais cidades debatam, planejem e implementem soluções para garantir acesso regular e saudável à alimentação.
A Política Nacional foi formalmente instituída pelo Decreto Presidencial nº 11.822, de 12 de dezembro de 2023, com o objetivo de consolidar ações e fortalecer sistemas alimentares em áreas urbanas. Até o momento, a estratégia já alcança 102 municípios, entre eles 60 atendidos ao longo de 2024 e outros 42 distribuídos nas duas ampliações realizadas em 2025, incluindo 18 cidades do Rio Grande do Sul.
Caminhos para adesão e critérios de participação
A manifestação de interesse dos municípios ocorre por meio de formulário eletrônico disponível na Plataforma Alimenta Cidades. Caso o número de interessados ultrapasse o limite previsto, o MDS estabeleceu critérios de priorização, privilegiando cidades participantes do Protocolo Brasil Sem Fome, além de municípios das regiões Norte e Nordeste. Essa seleção busca garantir que territórios historicamente mais vulneráveis tenham prioridade nas ações, ampliando a equidade na implementação da política pública.
Uma política urbana que se projeta para o futuro
Ao expandir a Estratégia Alimenta Cidades para mil municípios, o Brasil desenha um projeto de médio e longo prazo que integra segurança alimentar, inclusão social, sustentabilidade e governança municipal. Trata-se de uma política que reconhece a complexidade das cidades brasileiras e, ao mesmo tempo, aposta no fortalecimento de suas capacidades locais para transformar realidades. A iniciativa avança como um marco na construção de sistemas alimentares urbanos mais justos, resilientes e capazes de atender às múltiplas urgências do presente.



