Em um movimento que reacende discussões sobre a eficiência da nutrição de lavouras, o Brasil bateu um novo recorde na importação de fertilizantes em agosto de 2025, superando a marca de 5 milhões de toneladas adquiridas em apenas um mês. O dado, divulgado pela consultoria StoneX, representa um avanço de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior e consolida uma tendência de alta nas compras externas antes do plantio da safra 2025/2026.
Embora o crescimento nas importações acompanhe o padrão sazonal típico entre junho e outubro, quando o mercado se antecipa para abastecer a próxima safra, a elevação neste ano não se deve apenas à demanda crescente por produtividade. O salto foi puxado, sobretudo, por uma mudança silenciosa, porém significativa, no perfil dos produtos adquiridos: fertilizantes com menor concentração de nutrientes vêm ganhando espaço por oferecerem melhor relação custo-benefício em um cenário de preços e oferta mais voláteis.
Produtos menos concentrados ganham protagonismo
Com a oferta global de MAP (fosfato monoamônico) mais restrita e o mercado de ureia operando em balanço apertado, muitos distribuidores e produtores rurais passaram a buscar alternativas viáveis, ainda que menos potentes. Como resultado, o país aumentou substancialmente a aquisição de insumos como o NP (mistura de nitrogênio e fósforo) e o sulfato de amônio, ambos com concentrações mais modestas em comparação aos fertilizantes tradicionais, mas com menor custo por tonelada.
Entre janeiro e agosto, as importações de NP somaram mais de 2,6 milhões de toneladas — um crescimento impressionante de 68% frente ao mesmo período de 2024. Já o sulfato de amônio ultrapassou 3,7 milhões de toneladas, acumulando alta de 59% na mesma comparação. Esse novo arranjo do portfólio de fertilizantes também teve impacto direto sobre a logística agrícola nacional, que passou a lidar com um volume físico maior para entregar a mesma quantidade de nutrientes ao solo.
Impactos na cadeia de suprimentos e na eficiência nutricional
A substituição de fertilizantes mais concentrados por alternativas mais diluídas representa um desafio logístico complexo. Para suprir a mesma necessidade nutricional das lavouras, é preciso movimentar um volume significativamente maior de produto, o que eleva os custos com transporte, armazenamento e distribuição. Além disso, a eficácia agronômica dos novos compostos precisa ser constantemente monitorada para garantir que o desempenho das culturas não seja comprometido.
Especialistas do setor vêm observando com atenção essa transformação, que tem raízes econômicas claras, mas consequências ainda incertas no longo prazo. Isso porque, embora o custo por tonelada dos insumos menos concentrados seja menor, a aplicação em campo exige doses maiores e pode gerar dúvidas quanto à disponibilidade efetiva dos nutrientes no solo em momentos críticos do ciclo produtivo.
Planejamento antecipado para uma safra estratégica
Os meses de julho e agosto são tradicionalmente marcados por forte movimentação de entrada de fertilizantes no país, refletindo o planejamento estratégico das lavouras que serão plantadas entre setembro e novembro. No caso dos fosfatados, o pico costuma ocorrer no trimestre entre junho e agosto, enquanto o cloreto de potássio se destaca nas compras entre maio e agosto.
Neste ano, porém, o planejamento logístico precisou se adaptar à nova realidade dos insumos. Armazéns, portos e transportadoras enfrentaram o desafio de lidar com cargas maiores, exigindo maior capacidade de armazenamento e escoamento interno para garantir que os produtos chegassem às fazendas no tempo certo. Essa reorganização logística foi essencial para que a safra não corresse riscos de atraso, especialmente em estados com grandes áreas cultivadas, como Mato Grosso, Goiás e Paraná.