Resumo
• O primeiro pré-teste do 12º Censo Agropecuário foi lançado na Bahia e na COP30, iniciando uma fase decisiva para atualizar o retrato da produção rural brasileira.
• A etapa inicial ocorre em quatro estados e testa logística, metodologia, questionário e tecnologia, visitando cerca de 1.200 estabelecimentos.
• O Censo amplia seu alcance ao incluir, de forma inédita, povos e comunidades tradicionais no levantamento nacional.
• Representantes estaduais e organizações como UNFPA e SENAR destacaram a importância dos dados para orientar políticas públicas.
• O pré-teste também foi apresentado na COP30, alinhado ao Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
O início do primeiro pré-teste do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola inaugura uma etapa decisiva para o maior levantamento rural do Brasil. Lançado simultaneamente em Salvador e durante a COP30, em Belém, o ensaio técnico representa mais do que um ajuste metodológico: ele prepara o terreno para um Censo que, de forma inédita, incorporará a produção, os modos de vida e as dinâmicas econômicas de povos e comunidades tradicionais presentes em todo o território nacional. Aliás, essa expansão do olhar estatístico é vista como fundamental num momento em que o país busca compreender sua diversidade produtiva e socioambiental com maior precisão.
Com o lema “Juntos vamos colher a maior safra de dados do Brasil”, o novo Censo deverá visitar aproximadamente cinco milhões de estabelecimentos agropecuários distribuídos pelos 5.571 municípios brasileiros. Além disso, deve gerar cerca de 35 mil empregos temporários, mobilizando uma operação que pretende atualizar, com clareza e profundidade, o retrato de atividades essenciais para a segurança alimentar, a geração de renda e o desenvolvimento econômico do país.
O início do trabalho em campo
Entre 1º e 12 de dezembro, o pré-teste entra em campo em quatro estados — Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Maranhão — para avaliar desde a logística até a compreensão das perguntas pelos informantes. Durante esse período, quarenta e cinco profissionais do IBGE assumem o papel de recenseadores em seis municípios estrategicamente selecionados: Bacabal, no Maranhão; Juazeiro e Sobradinho, na Bahia; Grão Mogol e Alfenas, em Minas Gerais; e Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Esses locais foram escolhidos justamente por refletirem uma ampla diversidade de biomas, sistemas produtivos, estruturas fundiárias e pela presença significativa de comunidades tradicionais. Assim, cerca de 1.200 estabelecimentos agropecuários devem ser visitados para testar o funcionamento do questionário e do aplicativo de coleta.
Esse ensaio inicial será seguido por uma segunda rodada de pré-teste e pelo Censo Agro Experimental, ambos previstos para 2026, refinando ainda mais o desenho final do levantamento.
Um Censo para todos os territórios
Na apresentação realizada na sede da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB), em Salvador, o diretor de Pesquisas do IBGE, Gustavo Junger, sintetizou o espírito da iniciativa ao afirmar que “o Censo Agropecuário é uma oportunidade única para retratar toda a diversidade da realidade rural brasileira. É um Censo de todos.” A fala resume o esforço de ampliar o alcance estatístico, garantindo que diferentes expressões da agricultura — da produção familiar ao extrativismo tradicional — sejam identificadas com precisão.
O evento na Bahia reuniu representantes de diferentes instituições e secretarias estaduais, incluindo Osni Cardoso de Araújo, secretário de Desenvolvimento Rural; Pablo Barrozo, secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura; além de dirigentes do SENAR, do Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE e da superintendência estadual. Participando de forma remota, Júnia Queiroga, do UNFPA, destacou o caráter histórico dessa inclusão, afirmando: “É uma honra para o UNFPA ser parceiro da primeira inclusão de povos e comunidades tradicionais num Censo Agropecuário.”
A Bahia, como lembrou o superintendente do IBGE no estado, André Urpia, não apenas possui o maior número de estabelecimentos agropecuários do país, como também a maior proporção de população vivendo em áreas rurais — fator que reforça a relevância de iniciar o pré-teste no estado.
O Censo como instrumento para políticas públicas
Após o lançamento em Salvador, o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, apresentou o pré-teste na COP30, durante a cerimônia que marcou o anúncio do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. O Plano, estabelecido por decreto federal, delineia objetivos e metas para orientar políticas públicas ao longo dos próximos três anos.
Entre suas iniciativas, destaca-se a necessidade de produzir informações oficiais sobre povos e comunidades tradicionais — e o Censo Agropecuário ocupará papel central nesse processo. Na visão de Pochmann, “a partir da realidade revelada pelas estatísticas é que as políticas públicas se realizam. Se as estatísticas não mostram a realidade tal como ela se apresenta, é óbvio que há um desvio, um viés das políticas públicas, em não olhar para as especificidades.”
Ele também destacou que o Censo Demográfico 2022 já havia avançado na inclusão de grupos historicamente invisibilizados, e o novo Censo Agropecuário amplia esse horizonte ao inserir de forma sistemática os territórios tradicionais na base estatística nacional.
Um novo mapa do Brasil produtivo
Com a realização do pré-teste, o país dá início a uma etapa que moldará a compreensão sobre produção agropecuária, extrativismo, pesca, florestas plantadas e práticas comunitárias em todo o Brasil. Trata-se de um movimento que não apenas atualiza números, mas também amplia a capacidade de entender a complexidade do território rural brasileiro, suas desigualdades, suas potências e sua profunda diversidade cultural.
E, ao reunir dados sólidos para orientar políticas de desenvolvimento sustentável, o 12º Censo Agropecuário reforça seu papel como uma das ferramentas mais estratégicas do planejamento nacional — especialmente num momento em que o país se prepara para desafios climáticos, econômicos e sociais cada vez mais exigentes.



