O mercado global de cafés especiais ganhou novos ares após a participação brasileira em dois grandes eventos realizados no Japão, um dos principais destinos das exportações nacionais. Ao longo de quatro dias, entre 24 e 27 de setembro, produtores e exportadores do Brasil estiveram em destaque na SCAJ World Specialty Coffee Conference and Exhibition 2025, a maior feira do setor na Ásia, e também na rodada de negócios “Taste of the Harvest”, que reuniu mais de 50 importadores com foco na qualidade e origem dos grãos.
Os encontros não apenas valorizaram a diversidade sensorial do café brasileiro, como também renderam resultados expressivos. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), os negócios firmados e as projeções realizadas durante os eventos somam US$ 70,125 milhões. Desses, cerca de US$ 7,18 milhões foram fechados presencialmente, enquanto US$ 62,945 milhões devem se consolidar ao longo dos próximos doze meses.
Além da robustez numérica, a presença brasileira também foi marcada por 722 contatos comerciais, sendo 297 deles com novos compradores, o que evidencia não apenas a força da imagem do café especial do Brasil, mas também o interesse renovado do Japão por origens reconhecidas pela excelência em terroir, manejo sustentável e rastreabilidade.
Japão sobe no ranking de compradores e aumenta demanda por cafés de qualidade
Tradicionalmente exigente, o mercado japonês tem demonstrado cada vez mais apreço pelos cafés especiais produzidos no Brasil. Em 2024, o Japão importou 2,211 milhões de sacas de 60 kg, volume que representou 4,4% das exportações nacionais, posicionando o país asiático como o quinto maior comprador global do café brasileiro.
Desse montante, 14,6% (cerca de 323 mil sacas) foram de cafés classificados como especiais, o que reforça a atenção dos japoneses à diferenciação do produto, sobretudo em atributos sensoriais como acidez equilibrada, notas florais e corpo suave – características típicas de microlotes brasileiros cultivados com manejo técnico.
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o Japão já importou 1,671 milhão de sacas, subindo para a quarta posição entre os maiores compradores do Brasil. Mais uma vez, os cafés especiais se destacaram: 265 mil sacas, o equivalente a 15,9% desse total, vieram de origens premium, com maior valor agregado e foco em nichos como cafeterias gourmet, torrefações artesanais e o consumo doméstico de alto padrão.
Aposta estratégica em novos mercados diante de desafios comerciais
A intensificação da presença brasileira no mercado asiático não é apenas uma celebração da qualidade do café nacional, mas também uma resposta estratégica ao novo cenário comercial global. Diante das barreiras tarifárias impostas pelos Estados Unidos ao café brasileiro, o Japão surge como um parceiro-chave na diversificação de destinos e na mitigação de riscos logísticos e tributários.
Para a Associação Brasileira de Cafés Especiais, o momento é decisivo. “Com o tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre o café brasileiro, é essencial ampliar o diálogo com novos e tradicionais compradores, como o Japão”, pontua Vinicius Estrela, diretor executivo da BSCA.
Essa movimentação reforça o papel do Brasil como líder mundial na produção de cafés diferenciados, não apenas em escala, mas também em qualidade, inovação e sustentabilidade. O avanço nos negócios com o Japão consolida uma ponte de confiança entre produtores brasileiros e consumidores asiáticos, abrindo portas para novos acordos, fortalecimento de marca e valorização dos grãos cultivados com excelência.
A expectativa, portanto, vai além dos números: ela se traduz em uma nova fase de internacionalização do café especial brasileiro, que encontra no Japão um paladar pronto para valorizar cada nota do nosso terroir.