A força do agronegócio brasileiro é inegável — alimenta bilhões, gera empregos e movimenta a economia. Mas, por trás das safras recordes e da tecnologia no campo, há um gargalo que continua travando o desenvolvimento do setor: a logística. Durante o seminário “Desafios do transporte ferroviário e competitividade do setor produtivo”, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em Brasília, o recado foi claro: sem um sistema de transporte moderno, eficiente e integrado, o agro perde tempo, mercado e potência.
Representando o presidente da CNA, João Martins, o vice-presidente da entidade e também presidente da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura, Mário Borba, foi direto ao ponto. Para ele, a agropecuária brasileira está crescendo em produção, sustentabilidade e inovação, mas continua refém de uma malha logística defasada e mal distribuída. “Faltam conexões com as novas áreas agrícolas. Sem transporte eficiente, perdemos força. Sem planejamento, perdemos tempo. Sem integração, perdemos mercado”, declarou.
O encontro, promovido em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), reuniu autoridades, parlamentares, entidades do setor produtivo e especialistas em transporte ferroviário. Além de abrir espaço para denúncias sobre os entraves logísticos, o seminário também foi uma vitrine para soluções e propostas de futuro.
Malha ferroviária: muita carga, pouco trilho
A crítica à inoperância de boa parte da infraestrutura ferroviária foi um dos pontos mais discutidos. Atualmente, cerca de um terço das ferrovias brasileiras está inativo, segundo dados apresentados durante o evento. Esse abandono impede que a produção agropecuária escoe com a rapidez e o custo competitivo necessários, especialmente em um mercado global que exige eficiência.
“Temos que garantir o acesso do campo aos trilhos e dar voz a quem movimenta essa cadeia: os donos da carga”, defendeu Mário Borba. Para ele, é essencial que os usuários participem ativamente do planejamento, da fiscalização e da regulação das concessões ferroviárias. “Somos nós que sentimos, todos os dias, o impacto da ausência de tecnologia e da má gestão”, completou.
Tiago Barros, representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), reforçou que as cooperativas estão entre os mais afetados pela lentidão nos avanços logísticos e que o debate em torno do transporte ferroviário é central para garantir competitividade. Já Flávio Andreo, presidente do Conselho da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), foi enfático ao lembrar que a logística hoje é um dos maiores limitadores do crescimento do agro brasileiro.
Investir em infraestrutura é destravar o Brasil
O seminário contou ainda com a participação de representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O diretor da CNI, Roberto Muniz, destacou que não há país desenvolvido sem logística eficiente, e que ferrovias são essenciais para um crescimento sustentável. Ele lembrou que, sem escoamento, toda a produção perde valor antes mesmo de chegar ao mercado.
Por sua vez, Guilherme Sampaio, diretor-geral da ANTT, apresentou os esforços da agência para modernizar o setor. Segundo ele, está em curso uma reforma regulatória no transporte ferroviário e a retomada de obras estratégicas, como a Ferrogrão, a Transnordestina e a FICO (Ferrovia de Integração Centro-Oeste).
Além disso, o protagonismo do Congresso Nacional também foi destaque. O senador Weverton Rocha (PDT/MA) defendeu seu projeto de lei (PL 4158/2024), que busca reconfigurar as atribuições da ANTT e ampliar a eficiência da política logística no país. Ele acredita que o Brasil pode se tornar um celeiro de oportunidades, desde que haja vontade política para tirar os planos do papel.
O deputado federal Alexandre Guimarães (MDB/TO), autor do PL 3345/2025, destacou que garantir igualdade de condições para os usuários ferroviários e melhorar a capacidade mínima do sistema são medidas fundamentais para destravar investimentos e modernizar a malha existente.