Nos dias 21 e 22 de outubro, Brasília se tornou palco de um debate essencial sobre os rumos da agropecuária brasileira. Em um momento em que sustentabilidade, inclusão e competitividade estão no centro das exigências internacionais, dois encontros promovidos pelo Imaflora lançaram luz sobre a necessidade de integrar legalidade e responsabilidade socioambiental como pilares inegociáveis do setor.
As agendas abordaram temas estratégicos como as transformações no comércio sino-brasileiro de carne bovina e o avanço das exigências globais em torno da rastreabilidade e conformidade da produção agropecuária. Especialistas, representantes do governo, ONGs e grandes nomes do setor privado se reuniram em torno de um objetivo comum: repensar os caminhos da produção pecuária no Brasil diante de um cenário global cada vez mais regulado e exigente.
Integração entre sustentabilidade, transparência e competitividade
Durante o terceiro encontro “Diálogos Boi na Linha”, a Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável teve papel de destaque ao defender que os conceitos de legalidade, responsabilidade ambiental e viabilidade econômica precisam caminhar lado a lado. A fala da presidente da entidade reforçou a importância de encarar essas dimensões não como demandas isoladas, mas como parte de uma mesma estratégia de evolução setorial.
Segundo ela, o mercado internacional — especialmente após a entrada em vigor de legislações ambientais na União Europeia — já não diferencia reputação de conformidade. A regularidade ambiental e social passou a ser condição para acessar mercados, obter crédito e garantir a permanência no jogo global. Nesse novo cenário, a pecuária brasileira é desafiada a se modernizar sem excluir os pequenos produtores, integrando todas as vozes da cadeia produtiva.
A fala da liderança da Mesa destacou que a sustentabilidade não pode ser encarada como um caminho solitário ou restrito a grandes corporações. Pelo contrário, trata-se de um esforço coletivo, que exige diálogo entre todos os atores da cadeia, da propriedade rural ao sistema financeiro, passando por instituições públicas, compradores e a sociedade civil.
A nova lógica do acesso a mercados e crédito
O debate em Brasília também evidenciou que a pecuária responsável já não é uma tendência — é uma exigência prática. Novas regulamentações, como as do Parlamento Europeu, impõem critérios rígidos de rastreabilidade e combate ao desmatamento para a importação de commodities agrícolas, especialmente carne e soja. Nesse contexto, ficou claro que apenas propriedades que comprovarem regularidade socioambiental conseguirão manter acesso a mercados estratégicos.
Além disso, mecanismos de crédito e financiamento estão cada vez mais atrelados à capacidade de demonstrar boas práticas ambientais. Instituições financeiras e bancos públicos começam a operar com critérios de compliance mais rigorosos, premiando cadeias produtivas que investem em rastreabilidade, inclusão produtiva e recuperação de passivos ambientais.
Participações de órgãos como o Ministério Público Federal, Banco Central e Ministério do Meio Ambiente reforçaram que o desafio não é apenas econômico: trata-se de uma reconfiguração das políticas públicas em torno de um modelo agropecuário regenerativo, transparente e inclusivo.


