A reabertura do mercado europeu para a carne de frango e de peru brasileira marca um passo decisivo na consolidação da confiança internacional no sistema sanitário do país. A decisão da União Europeia, anunciada nesta segunda-feira (22), confirma que as autoridades brasileiras foram eficazes em conter de forma rápida e segura o surto isolado de influenza aviária registrado em maio no Rio Grande do Sul — único fator que havia motivado a suspensão temporária das exportações.
O regulamento foi publicado oficialmente nesta segunda-feira no bloco europeu, mas as liberações já passam a valer a partir de 23 de setembro. Segundo o texto, produtos com data de produção a partir de 18 de setembro já estão autorizados a entrar no mercado europeu, com exceções específicas para áreas ainda em monitoramento sanitário.
Reabertura será feita em fases e com base no rigor sanitário
A retomada do comércio foi estruturada em fases, de acordo com a localização geográfica das granjas e o grau de risco sanitário. Todas as regiões do Brasil, com exceção do estado do Rio Grande do Sul, foram liberadas para exportar com data de produção a partir de 18 de setembro. Já o próprio estado sulista, excluindo a zona do foco identificado, poderá voltar a exportar a partir de 2 de outubro. Por fim, a área num raio de 10 quilômetros em torno da granja foco terá suas exportações retomadas somente em 16 de outubro.
Essa diferenciação por zonas evidencia o alinhamento do Brasil às práticas internacionais de regionalização sanitária. A contenção eficaz do foco — que levou apenas 28 dias para que o país recuperasse o status de livre da doença — foi determinante para a decisão europeia. Além de demonstrar agilidade operacional, o episódio reforça a robustez do sistema nacional de defesa agropecuária.
Diplomacia agropecuária e retomada da confiança
A reabertura do mercado europeu foi resultado direto de articulações diplomáticas conduzidas pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, em encontro com o comissário europeu de Saúde e Bem-Estar Animal, Olivér Várhelyi, no início de setembro. A atuação do governo brasileiro, ao apresentar dados técnicos e medidas adotadas, foi decisiva para atestar que o surto havia sido controlado sem risco de disseminação.
Com essa medida, a União Europeia reafirma seu papel como um dos principais destinos da carne de aves brasileira e se soma a outros mercados internacionais que mantiveram sua confiança na proteína nacional, mesmo diante do episódio pontual de influenza aviária.
Exportações em alta e expectativas com a China
Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil exportou 3,28 milhões de toneladas de carne de frango, gerando uma receita de US$ 6,15 bilhões, segundo dados oficiais do setor. Mesmo com o episódio de suspensão temporária, os números reforçam a liderança do Brasil como maior exportador mundial de carne de frango, sendo referência não apenas em volume, mas também em controle sanitário.
A reabertura do mercado europeu coincide com outro momento-chave: o início da auditoria técnica da China no Brasil, também nesta segunda-feira. A missão tem como objetivo avaliar in loco os sistemas de controle relacionados à influenza aviária e é considerada uma etapa essencial para a retomada das exportações ao gigante asiático — atualmente, o último grande destino a manter restrições à proteína aviária nacional.
Segundo fontes ligadas ao Ministério da Agricultura, o governo espera que o sucesso na negociação com a União Europeia funcione como uma vitrine do rigor sanitário brasileiro para os chineses. A expectativa é que a China, ao concluir sua auditoria, também avance para a reabilitação do mercado, o que deve ampliar ainda mais o fluxo comercial brasileiro em um dos setores mais estratégicos do agronegócio.