Resumo
• O Brasil lidera o número de Indicações Geográficas de café, com 20 selos que valorizam a diversidade e a qualidade dos grãos produzidos no país.
• A 13ª Semana Internacional do Café, em Belo Horizonte, destaca os cafés certificados e suas histórias, aromas e terroirs únicos.
• O Sebrae apoia mais de 5,8 mil cafeicultores e atua em 44 territórios, promovendo sustentabilidade e fortalecimento da agricultura familiar.
• As IGs agregam valor ao produto, protegem a origem e elevam o preço da saca de café em até 300% em algumas regiões.
• A nova plataforma de digitalização das IGs garante rastreabilidade e transparência, reforçando a identidade e o prestígio do café brasileiro.
Durante uma conversa recente entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, um comentário inusitado ganhou destaque: os americanos estariam sentindo falta do café brasileiro. O que não ficou claro — e que o mercado nacional faz questão de ressaltar — é que não estamos mais falando de um produto genérico, tratado como mera commodity. O café do Brasil carrega hoje identidade territorial, diversidade de sabores e uma trajetória de valorização construída com esforço coletivo e certificação de origem.
Esse novo posicionamento será celebrado na 13ª Semana Internacional do Café (SIC), de 5 a 7 de novembro, no Expominas, em Belo Horizonte. Durante o evento, o Sebrae Nacional promoverá experiências de degustação que revelam a riqueza de aromas, texturas e histórias por trás de 20 Indicações Geográficas (IGs) reconhecidas no país. Para os mais de 25 mil participantes esperados, será uma imersão na essência de um café que tem muito a dizer sobre o Brasil.
“O público poderá sentir na xícara toda a dedicação do produtor, do plantio à secagem. Cada região imprime sua marca, e isso é o que torna nossos cafés tão singulares”, afirma Hulda Giesbrecht, coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae Nacional.
Selo de origem que valoriza o território e o produtor
As Indicações Geográficas, reguladas pela Lei da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96), são reconhecimentos que vinculam a qualidade e a reputação de um produto à sua origem geográfica. No universo do café, elas se dividem em Indicações de Procedência (IP) e Denominações de Origem (DO). A primeira reforça a tradição e notoriedade de determinada região, enquanto a segunda exige comprovação científica de que as condições ambientais influenciam diretamente nas características do produto.
Hoje, o Brasil lidera esse movimento com 20 IGs registradas somente para café, número que consolida a bebida como produto campeão em reconhecimento geográfico. Para Hulda, esses registros vão além da certificação técnica: “Eles protegem, valorizam e contam a história de um povo e de um lugar. É um patrimônio cultural que se transforma em valor de mercado real.”
O Sebrae atua em 44 territórios produtores e já acompanha diretamente mais de 5,8 mil cafeicultores, muitos deles da agricultura familiar, que representam 70% das cerca de 300 mil propriedades cafeeiras do país. Além do suporte técnico, a instituição fortalece a gestão e incentiva práticas sustentáveis, essenciais para a longevidade do setor.
“O café virou um motor de transformação social e ambiental. O apoio técnico é vital para garantir que os pequenos produtores atendam às exigências do mercado sem perder suas raízes”, reforça Hulda.
Plataforma digital e rastreabilidade na xícara
Em 2024, o Sebrae lançou a Plataforma de Digitalização das IGs, ferramenta inédita que documenta e torna acessível a rastreabilidade de cada café certificado: da altitude da fazenda ao tipo de solo, passando por aroma, terroir, responsabilidade ambiental e social. Isso significa que o consumidor, ao escolher um café com IG, está adquirindo um produto com origem garantida e história preservada.
Esse tipo de transparência já reflete em ganhos diretos para os pequenos negócios. Em algumas regiões, a valorização da saca de café ultrapassou 300% após a conquista do selo, o que reforça o poder da origem como diferencial competitivo.
O Brasil na xícara: tradição, clima e sabor
As IGs cafeeiras brasileiras representam microrregiões com condições únicas, como clima, relevo, altitude e práticas culturais que impactam diretamente no perfil sensorial dos grãos. Algumas se destacam pela acidez brilhante, outras pela doçura aveludada ou corpo marcante.
Entre as Denominações de Origem, estão nomes como Região do Cerrado Mineiro, Matas de Rondônia, Mantiqueira de Minas e Caparaó. Já entre as Indicações de Procedência, destacam-se Alta Mogiana, Campo das Vertentes, Sudoeste de Minas e Espírito Santo. Cada uma delas carrega uma assinatura única de sabor, resultado de práticas enraizadas na cultura local.
Esse reconhecimento é também um instrumento de preservação de saberes e valorização da biodiversidade, especialmente em áreas como a Chapada Diamantina ou as Montanhas do Espírito Santo, onde a agricultura convive com a rica fauna e flora brasileiras.
Durante a SIC, todas essas regiões terão voz e protagonismo, provando que o café brasileiro — embora ainda importante no volume exportado — está se reinventando como um produto de excelência, identidade e pertencimento. Um café que não se define apenas por sua torra, mas por tudo aquilo que representa: território, história e gente.



