Com a colheita praticamente encerrada no Brasil, o mês de agosto registrou um movimento inesperado — mas significativo — no mercado do café. A saca voltou a ultrapassar a marca simbólica dos R$ 500, valor que não era visto desde o início do ciclo, em maio e junho, quando a colheita ainda estava em andamento. A disparada acende um alerta entre produtores, exportadores e torrefadores, e recoloca o grão no centro das atenções do agronegócio nacional.
O cenário atual é resultado de uma combinação de fatores que se intensificaram ao longo do mês. De um lado, a oferta apertada: o ciclo de produção sofreu impactos climáticos mais severos do que o previsto, o que reduziu o volume final colhido e prejudicou a recomposição dos estoques, tanto no mercado interno quanto no exterior. Do outro lado, o ambiente internacional impôs novos desafios ao café brasileiro, especialmente com o aumento das tarifas sobre o produto exportado aos Estados Unidos — um dos principais destinos da commodity nacional.
De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), os reflexos desse quadro foram imediatos. Em apenas quatro semanas, o café robusta acumulou uma valorização de quase 50%, enquanto o arábica avançou cerca de 28%. O comportamento do mercado aponta uma retomada da confiança na valorização do grão, impulsionada pelo movimento dos contratos na Bolsa de Nova York (ICE Futures), onde os preços futuros passaram a refletir a escassez global.