A demanda chinesa por soja voltou a surpreender o mercado global em agosto. Com 12,28 milhões de toneladas desembarcadas em seus portos ao longo do mês, a China estabeleceu um novo recorde histórico para este período do ano, reforçando seu papel como principal consumidor mundial da oleaginosa. O dado, divulgado pela Administração Geral de Alfândegas do país asiático, representa um avanço de 1,2% em relação ao mesmo mês de 2024 — e um salto de 5,2% frente a julho. Em valores, o volume adquirido em agosto ultrapassou os US$ 5,45 bilhões.
De janeiro a agosto de 2025, o total importado já soma 73,31 milhões de toneladas, o que configura um crescimento sólido de 4% no comparativo com igual intervalo do ano anterior. Além da alta nos volumes, chama atenção o protagonismo do Brasil nesse fluxo comercial. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) revelam que 85% de toda a soja exportada pelo Brasil em agosto teve como destino o mercado chinês. No acumulado do ano, essa fatia se mantém expressiva: 76,3%.
Segundo o analista agrícola Henrique Carvalho, da Safra Brasil Consultoria, esse comportamento é reflexo direto da competitividade do grão brasileiro no cenário atual. “O câmbio favorável, a logística eficiente dos portos do Arco Norte e o diferencial climático da última safra permitiram ao Brasil ofertar soja de forma agressiva e com preços atrativos, o que agradou os chineses”, explica o especialista.
Ausência de compras nos EUA preocupa produtores locais
Se o Brasil comemora um ciclo positivo nas exportações, o mesmo não se pode dizer dos Estados Unidos. Até o momento, não há registros significativos de compras de soja norte-americana pela China para o período de setembro a janeiro, justamente quando a colheita americana ganha força. A ausência de compromissos de venda acende um alerta entre produtores norte-americanos, que enfrentam incertezas com relação à colocação de sua produção no mercado internacional.
Para Clarissa Teles, economista e pesquisadora em comércio agrícola internacional, o atual distanciamento da China em relação à soja dos EUA vai além de questões comerciais. “Há uma estratégia geopolítica clara de diversificação de fornecedores, mas também uma leitura pragmática de custo-benefício. A soja brasileira está sendo entregue com qualidade e rapidez, e isso conta muito para os importadores chineses”, pontua.
Além disso, o clima tem jogado contra o campo americano. Secas prolongadas em regiões produtoras do Meio-Oeste têm afetado as perspectivas de produtividade da safra 2025/2026, o que gera volatilidade e eleva os preços no mercado futuro de Chicago — um fator que pode estar contribuindo para a cautela dos compradores internacionais, especialmente os chineses.