Resumo
- Iniciativas brasileiras mostram como ciência e inovação juvenil podem oferecer soluções concretas para a poluição marinha e a preservação costeira.
- O Cetene desenvolve bioplásticos biodegradáveis a partir de bactérias e realiza monitoramento de microplásticos em manguezais da Mata Atlântica.
- Estudantes do Sesi Alagoas criaram um solvente natural, o Desin Craca, que remove cracas de barcos sem agredir o meio ambiente ou a saúde dos pescadores.
- O projeto alagoano fortalece comunidades tradicionais e valoriza o trabalho artesanal, promovendo inclusão social por meio da ciência.
- A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia evidencia como diferentes frentes de pesquisa podem se unir para transformar realidades locais com impacto nacional.
Na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2025, dois projetos brasileiros ganham protagonismo ao demonstrar que é possível aliar biotecnologia e engajamento social em prol da saúde dos mares — um deles vindo de um dos principais centros de pesquisa científica do Nordeste; o outro, criado por jovens estudantes do ensino médio em Alagoas.
No estande do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a ciência se materializa em forma de microrganismos que produzem biopolímeros com potencial para substituir o plástico tradicional. A pesquisa desenvolve plásticos biodegradáveis a partir de bactérias cultivadas em laboratório, oferecendo uma alternativa viável a materiais derivados do petróleo — esses sim, persistentes no ambiente e amplamente responsáveis pela contaminação de ambientes costeiros.
Além disso, a equipe monitora manguezais da Mata Atlântica em busca de vestígios de microplásticos em diversas matrizes ambientais: da água ao sedimento, passando por organismos como peixes, camarões e moluscos. As evidências encontradas nesses estudos revelam a extensão do problema e reforçam a urgência de soluções que transcendam o laboratório e cheguem ao campo. O mesmo grupo também se dedica à produção de mudas de mangue, um dos ecossistemas mais impactados pelo acúmulo de resíduos sólidos.
Juventude alagoana e a química do cuidado com o mar
A poucos quilômetros dali, no litoral alagoano, estudantes do Sesi estão colocando a ciência a serviço da vida cotidiana de centenas de pescadores artesanais. O grupo de jovens criadores do projeto “Desin Craca”, batizado em tom bem-humorado, desenvolveu um solvente natural capaz de remover cracas dos cascos das embarcações sem danificar o material e, mais importante, sem contaminar o meio ambiente.
A composição, simples e eficiente — feita com bicarbonato, vinagre e água oxigenada — atua em apenas 20 minutos e pode ser descartada no lixo orgânico, evitando o uso de produtos químicos agressivos que antes colocavam em risco a saúde dos trabalhadores e a fauna marinha. A iniciativa nasceu da observação direta da realidade local e, desde então, passou a ser testada em seis comunidades pesqueiras do estado em parceria com a Federação dos Pescadores de Alagoas.
Mais do que uma solução prática, o Desin Craca tornou-se também um agente de inclusão. Ao facilitar a vida dos pescadores, sobretudo os mais velhos, o projeto resgata sua autonomia e valoriza um modo de vida tradicional muitas vezes negligenciado pelas políticas públicas. O plano agora é ampliar o alcance do produto, transformando-o em alternativa acessível e comercialmente viável para outras regiões do país.
Tecnologia e pertencimento: caminhos complementares para a transformação
Essas duas frentes — a do laboratório e a das comunidades — mostram que ciência e sustentabilidade não são caminhos paralelos, mas sim convergentes. De um lado, a biotecnologia avança com soluções de alta complexidade, como os bioplásticos desenvolvidos pelo Cetene. Do outro, a criatividade juvenil revela como o conhecimento pode ser aplicado de forma sensível, econômica e eficaz na resolução de problemas cotidianos.
Ao dar visibilidade a essas ações durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o Brasil destaca não apenas a excelência de seus centros de pesquisa, mas também o potencial de suas juventudes. Aliás, esse é um dos grandes méritos do evento: promover a interação entre diferentes saberes, territórios e gerações, fomentando um ecossistema de inovação que não se encerra nos muros acadêmicos.
Com apoio de entidades como a Finep, Caixa Econômica Federal, Huawei, Embratur e Conselho Federal de Química, o evento se consolida como vitrine de uma ciência que se coloca a serviço da transformação social e ambiental. Afinal, quando pesquisa e ação se encontram, o impacto extrapola os estandes — e reverbera nas águas que todos nós compartilhamos.



