A proposta de fusão entre BRF e Marfrig deu um passo decisivo rumo à consolidação ao receber o aval da maioria dos acionistas minoritários da BRF. Em comunicado divulgado no sábado (2), foi informado que 71,4% dos minoritários votaram favoravelmente à operação, em um movimento que antecede a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) agendada para esta terça-feira (5), marcada para acontecer em ambiente virtual.
A adesão maciça, ainda que precedida por meses de polêmicas e análises técnicas, fortalece a proposta de incorporação integral da BRF pela Marfrig, criando o que pode ser a MBRF Global Foods — uma gigante global do setor de alimentos, com atuação em diversos continentes e uma receita anual combinada superior a R$ 150 bilhões.
Troca de ações e próximos passos
Pelo modelo aprovado, cada ação da BRF será convertida em 0,8521 ação da Marfrig. O plano também prevê o cancelamento das ações mantidas em tesouraria e garante o direito de retirada para acionistas que se opuserem à operação. A aprovação na AGE formalizará a BRF como uma subsidiária integral da Marfrig, alterando de forma profunda o mapa corporativo da indústria de alimentos no Brasil.
Ainda assim, a concretização plena da fusão exige o cumprimento de etapas adicionais. Entre elas, está a aprovação dos próprios acionistas da Marfrig, além da análise concorrencial por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que pode ainda receber manifestações ou objeções de concorrentes do setor.
Resistência, pressão regulatória e o recuo da Previ
Embora a votação tenha sido amplamente favorável, o processo não passou imune a críticas. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chegou a solicitar o adiamento da assembleia em mais de uma ocasião, exigindo maior transparência na divulgação das projeções financeiras e questionando a simetria de informações prestadas aos investidores. A medida refletiu diretamente no comportamento de parte dos minoritários, que passaram a questionar a equidade da relação de troca entre as empresas.
O episódio de maior repercussão veio com a saída da Previ, maior fundo de pensão do país. Após mais de 30 anos como acionista da BRF, o fundo se desfez de toda a sua posição, avaliando que a fusão poderia prejudicar os interesses de seus cotistas. A venda de aproximadamente R$ 1,9 bilhão em papéis foi acompanhada pela realocação do montante em títulos públicos, numa decisão pautada por critérios de risco e segurança.
A movimentação da Previ serviu como alerta ao mercado e adicionou uma camada de incerteza ao processo. Contudo, seu efeito prático foi limitado: a maioria dos acionistas seguiu favorável à união das companhias.
Impacto e expectativas no agronegócio
A possível criação da MBRF Global Foods promete não apenas ganhos operacionais — estimados em mais de R$ 800 milhões com sinergias ao longo dos próximos anos — mas também posiciona o Brasil de forma mais estratégica no comércio global de proteína animal. A nova companhia combinaria a presença internacional robusta da Marfrig com a forte atuação da BRF nos mercados doméstico e externo, especialmente no segmento de aves e suínos.
Apesar da aprovação expressiva, ainda há desafios regulatórios e eventuais embates judiciais que podem surgir ao longo da finalização do processo. Ainda assim, a tendência é de que a operação avance sem obstáculos estruturais significativos.