Ao sobrevoar os Lençóis Maranhenses, a impressão é de que as nuvens se materializaram em pleno solo maranhense, moldadas com a precisão de uma obra de arte natural. Com seus campos de dunas entrecortados por lagoas cristalinas, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no litoral nordeste do Brasil, acaba de ser consagrado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco — um reconhecimento que o posiciona entre os santuários naturais mais importantes do planeta.
Esse título, concedido em julho de 2024 durante a reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco em Nova Délhi, na Índia, coloca o parque ao lado de ícones como as Cataratas do Iguaçu e o Pantanal. A decisão foi baseada na excepcional beleza cênica e nas características geológicas únicas da região, que se situa entre os biomas Cerrado, Caatinga e Amazônia.
Rigor técnico e valor universal
A candidatura brasileira foi conduzida por um esforço conjunto do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Governo do Maranhão. Para conquistar a chancela da Unesco, o parque precisou comprovar seu Valor Universal Excepcional, além de apresentar medidas consistentes de proteção e gestão.
De acordo com Mauro Pires, presidente do ICMBio, o título coroa décadas de trabalho e consolida a importância das unidades de conservação brasileiras. “Elas resguardam riquezas únicas, preservam a biodiversidade e contribuem de forma decisiva para a captura de carbono”, afirma. Ainda segundo ele, o reconhecimento mundial amplia o compromisso coletivo com a conservação. “Mais que um título, é uma camada a mais de proteção e consciência social.”
Impacto sobre o turismo e a biodiversidade
A notoriedade internacional deve acentuar ainda mais o interesse dos visitantes pela região, que já se consolidou como o sexto parque nacional mais visitado do país, com mais de 440 mil visitantes registrados apenas em 2024. Mas o crescimento turístico exige contrapartidas concretas em termos de infraestrutura e monitoramento ambiental.
Com uma área superior a 155 mil hectares, o parque abriga 133 espécies de plantas, 112 de aves e 42 de répteis, formando um mosaico de vida que depende do equilíbrio entre visitação e conservação. “É uma paisagem que parece ter sido esculpida à mão, tamanha a precisão e a beleza de suas formas naturais”, comparou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante a cerimônia de certificação realizada no Parque das Dunas, em Barreirinhas.
Acordo reforça a proteção e o turismo sustentável
Para garantir a proteção do novo patrimônio da humanidade, o ICMBio e o Governo do Estado do Maranhão firmaram um Acordo de Cooperação Técnica com oito frentes de atuação. Entre as ações previstas estão a instalação de guaritas nos acessos ao parque, a construção de um Complexo de Segurança em Atins, o monitoramento da qualidade da água das lagoas e a criação de um Batalhão de Polícia Ambiental permanente.
Além das estruturas, o plano inclui o incentivo ao turismo de base comunitária, envolvendo as cerca de 1.500 famílias que vivem nos 68 núcleos populacionais dentro da unidade. Essa integração busca valorizar o conhecimento tradicional das comunidades locais e garantir que o crescimento turístico também represente mais dignidade, geração de renda e valorização cultural.
O governador do Maranhão, Carlos Brandão, reforçou o compromisso estadual com a conservação e o turismo sustentável. “Este é um momento histórico para o Maranhão. Vamos investir em infraestrutura e proteção para que os Lençóis Maranhenses sejam preservados e, ao mesmo tempo, promovam oportunidades para o nosso povo.”
Um marco para o Brasil e para o planeta
Com os Lençóis Maranhenses, o Brasil passa a contar com nove sítios naturais reconhecidos pela Unesco. O título simboliza um avanço na valorização de áreas protegidas e no posicionamento do país como guardião de tesouros ecológicos de interesse global. Em julho, outro destaque foi o Cânion do Peruaçu, em Minas Gerais, também incluído na lista.
Para Marlova Noleto, diretora da Unesco no Brasil, “os Patrimônios Mundiais são bens de toda a humanidade. Reconhecê-los é também se comprometer com sua defesa para as próximas gerações.”