A cidade de Belém, no Pará, será palco, em novembro, de uma das conferências mais esperadas dos últimos anos na agenda ambiental global: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Com a presença de representantes de 196 países, a expectativa do governo brasileiro é transformar o encontro em um divisor de águas na luta contra o desmatamento e na aceleração da transição energética.
Para a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a COP30 precisa deixar de lado discursos genéricos e resultar em um verdadeiro “mapa do caminho” com metas definidas para um futuro mais sustentável. “Queremos sair de Belém com um plano justo e viável para encerrar o desmatamento e reduzir gradualmente o uso de combustíveis fósseis até a sua eliminação”, declarou durante entrevista no programa Bom Dia, Ministra.
Financiamento climático bilionário
Entre os pontos mais sensíveis da pauta está a mobilização de recursos. Marina destacou a meta de viabilizar 1,3 trilhão de dólares anuais até 2035, valor acordado na COP29, realizada no Azerbaijão, para apoiar a transição energética e as ações de preservação ambiental nos países em desenvolvimento. A ministra reforçou ainda que o Brasil pretende liderar o esforço para triplicar a capacidade de energia renovável e duplicar a eficiência energética no mundo.
Nesse contexto, ela citou instrumentos inovadores, como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que busca garantir pagamentos contínuos pela manutenção de áreas florestais. “É preciso somar esforços e criar mecanismos que tornem possível a ação climática em escala global, com recursos permanentes e metas exequíveis”, enfatizou.
Adaptação diante da emergência climática
Além da mitigação das emissões, a COP30 também deve reforçar estratégias de adaptação, já que os impactos da crise climática se tornaram cada vez mais evidentes. Marina lembrou que o Brasil enfrenta, em intervalos curtos, eventos extremos como secas prolongadas, chuvas torrenciais e incêndios florestais, todos agravados pelo aumento das temperaturas e pela redução da umidade.
Para enfrentar esses desafios, o governo lançou o programa Adapta Cidades, destinado a preparar municípios para lidar com desastres climáticos recorrentes. O projeto, já aderido por todas as unidades da Federação, prevê desde sistemas de alerta rápido até obras de contenção de encostas, criação de rotas de fuga e instalação de abrigos temporários. Mais de 200 cidades já estão contempladas nesta fase inicial.
Novo marco legal para prevenção
A ministra defendeu também a necessidade de rever o marco legal que regula a decretação de emergência no Brasil. Segundo ela, a legislação atual só reconhece a emergência após o desastre já ter ocorrido, quando as perdas humanas e materiais são inevitáveis. “Sabemos, com base em dados científicos, que algumas regiões serão repetidamente afetadas por eventos extremos. Precisamos agir antes da tragédia, criando protocolos preventivos”, afirmou.