A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), que será realizada em Belém em 2025, volta a reconhecer o valor da cultura amazônica. A organização do evento decidiu republicar o edital que orienta a operação de restaurantes e quiosques, liberando a comercialização de pratos típicos da culinária paraense, como açaí, maniçoba e tacacá — itens que haviam sido inicialmente vetados.
A reviravolta veio após ampla repercussão negativa e mobilização política, especialmente liderada pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, que é natural de Belém. Segundo ele, a exclusão desses alimentos do edital original representava uma falha grave no reconhecimento da identidade regional, sobretudo em um evento que será sediado no coração da Amazônia. “Vai ter açaí, vai ter tacacá e vai ter maniçoba na COP30, sim”, afirmou Sabino em vídeo divulgado nas redes sociais.
Gastronomia amazônica valorizada após pressão
O impasse teve início com a publicação do primeiro edital pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), entidade responsável pelas contratações da conferência. O documento estipulava diretrizes para a seleção dos operadores gastronômicos do evento, mas surpreendeu ao excluir justamente os sabores que mais representam a cultura alimentar do Norte do Brasil.
Além do açaí, a maniçoba — tradicionalmente feita a partir da folha da mandioca-brava cozida por sete dias — e o tacacá, caldo quente de tucupi com jambu, estavam fora da proposta inicial. A justificativa da exclusão girava em torno de riscos sanitários, com destaque para o açaí, cujo preparo pode, em raras ocasiões, favorecer a transmissão do Trypanosoma cruzi, parasita causador da doença de Chagas. Contudo, especialistas apontam que o risco pode ser controlado com boas práticas de higiene, pasteurização e rastreamento da cadeia produtiva.
O recuo da organização veio após uma série de reuniões entre o ministério do Turismo, representantes da OEI e o secretário-geral da COP30, Valter Corrêa. O resultado foi a publicação de uma nova versão do edital, dessa vez reconhecendo e respeitando os elementos essenciais da culinária regional.
Nova diretriz também altera posição sobre carnes
Outro ponto que sofreu revisão foi a orientação quanto ao consumo de carnes vermelhas. O documento anterior recomendava que os operadores evitassem o uso de produtos de origem animal, o que também gerou incômodo entre setores ligados à produção rural da região. Na nova redação, a diretriz passa a incentivar a redução gradual do consumo de alimentos de origem animal, sem impor restrições rígidas.