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Crédito rural encolhe no Brasil: o que explica a retração nas concessões

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Crédito rural encolhe no Brasil: o que explica a retração nas concessões
Resumo
  • A concessão de crédito rural caiu 16% no 1º semestre de 2025, somando R$ 83 bilhões e refletindo um cenário mais restritivo para produtores.
  • O recuo é influenciado por inadimplência, eventos climáticos e exigências socioambientais mais rigorosas, segundo análise da Serasa.
  • Apesar da queda no volume total, o número de novos contratos subiu 11,4%, mas com valores menores por operação.
  • O Centro-Oeste lidera em ticket médio e valor por contrato, enquanto o Sul mantém o maior volume total emprestado.
  • O Nordeste ampliou o acesso ao crédito, com o maior número de CPFs ativos e novos contratos firmados no período.

A dinâmica do crédito rural brasileiro entrou em um período de contenção no primeiro semestre de 2025, revelando um movimento que afeta diretamente produtores de diferentes portes e regiões. De acordo com a Serasa Experian, entre janeiro e junho foram liberados R$ 83 bilhões em linhas rurais e agroindustriais — um recuo expressivo quando comparado aos R$ 99 bilhões registrados no mesmo intervalo de 2024.

A queda de 16% reacende discussões sobre risco, capacidade de pagamento e sustentabilidade financeira no campo, elementos que têm moldado as decisões de crédito de forma cada vez mais criteriosa.

Um retrato complexo da oferta de financiamento rural

O levantamento analisou o comportamento de 2,8 milhões de produtores rurais que contrataram crédito e autorizaram o uso das informações no Cadastro Positivo. A partir desses dados, foi possível observar que a retração não decorre de um único fator, mas de uma combinação de pressões que se intensificaram ao longo do período.

Segundo Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, o cenário atual resulta de um alinhamento entre questões climáticas, aumento da inadimplência e novas exigências socioambientais impostas às instituições financeiras. “O setor convive com a elevação gradual da inadimplência, eventos climáticos e critérios mais rigorosos de conformidade socioambiental. Nesse contexto, dados e modelos preditivos ganham ainda mais relevância, apoiando as instituições financeiras na calibragem do apetite de risco e na manutenção de uma oferta de crédito sustentável”, afirmou.

Esses elementos ajudam a explicar por que, embora mais produtores tenham buscado financiamento, o valor médio aprovado por operação diminuiu de forma significativa. Assim, o campo vive um momento de cautela, no qual bancos e cooperativas ajustam suas políticas de risco enquanto agricultores tentam adequar suas demandas a um cenário mais rigoroso.

Mais contratos, porém com valores menores

Um dos aspectos que mais chama atenção no estudo da Serasa é o descompasso entre volume financeiro e número de contratos assinados. Embora o total concedido tenha diminuído, houve aumento de 11,4% nas novas operações, alcançando 343,6 mil contratos.

Na prática, o interesse pelo financiamento permanece alto, mas o crédito chega de forma mais fragmentada. O ticket médio por CPF caiu 22,1%, chegando a R$ 157,9 mil, o que indica operações menores, provavelmente ajustadas ao risco percebido ou à capacidade momentânea de endividamento dos produtores.

Esse comportamento sugere que muitos agricultores buscaram crédito não para expansão, mas para manter a atividade funcionando, repor capital de giro ou ajustar custos frente aos impactos climáticos e às variações de mercado.

As diferenças regionais que moldam o crédito rural

O estudo também revela como a geografia do agronegócio brasileiro influencia o desenho das concessões. O Centro-Oeste, tradicional motor do setor, liderou em indicadores estratégicos: apresentou o maior valor médio por contrato (R$ 468 mil), o maior número de contratos por CPF (1,37) e o maior ticket médio individual (R$ 639 mil). Esses números refletem estruturas produtivas mais verticalizadas, propriedades de maior escala e investimentos robustos na agricultura empresarial.

Enquanto isso, a região Sul manteve a liderança no volume total emprestado, alcançando R$ 15 bilhões, sustentada pela força de cadeias como soja, milho, trigo, leite e proteína animal.

No Nordeste, o destaque não foi o valor movimentado, mas o avanço da formalização financeira: a região registrou o maior número de CPFs com contratos ativos (108 mil) e também de novos contratos firmados (111 mil). O dado indica ampliação do acesso ao crédito e crescente estruturação econômica no campo, mesmo em áreas tradicionalmente marcadas por maior vulnerabilidade climática.

Um mercado que se reorganiza sob novas exigências

O comportamento apresentado no primeiro semestre de 2025 deixa claro que o crédito rural vive uma fase de reorganização. Enquanto o setor produtivo enfrenta desafios climáticos e flutuações de preços, o sistema financeiro se adapta a regras socioambientais e à necessidade de modelos de risco mais refinados.

Esse ambiente, ao mesmo tempo restritivo e dinâmico, revela que o crédito continua presente — porém redistribuído, mais cauteloso e atento a critérios que transcendem o simples histórico financeiro do produtor. Assim, o agronegócio brasileiro entra em uma etapa na qual eficiência, rastreabilidade e conformidade se tornam determinantes para acessar recursos e garantir competitividade.

  • Crédito rural encolhe no Brasil: o que explica a retração nas concessões

    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

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