Em um momento decisivo para o setor agrícola brasileiro, a Embrapa acaba de firmar uma cooperação estratégica para avançar nas pesquisas sobre o cultivo de cânhamo industrial e cannabis medicinal. O acordo, firmado com entidades privadas e articuladores do setor, marca o início de uma fase estruturante de inovação, desenvolvimento sustentável e apoio à regulamentação da planta no Brasil.
O movimento ocorre em um cenário no qual o Governo Federal, pressionado por decisão do Superior Tribunal de Justiça, tem até o final de setembro para regulamentar a produção nacional de cânhamo, uma variedade da cannabis com baixos índices de THC, mas alto potencial medicinal e industrial.
Um novo ciclo de pesquisa e articulação política
A iniciativa prevê a criação de plataformas de inovação aberta, observatórios de tendências e produção contínua de estudos técnicos para apoiar políticas públicas, investimentos privados e estratégias agrícolas. O objetivo central é oferecer suporte técnico e científico para que o Brasil entre de forma estruturada no mercado global de cannabis, que movimenta bilhões anualmente com medicamentos, fibras, cosméticos e produtos veterinários.
De acordo com Amanda Rosário, doutora em genética vegetal e consultora especializada em políticas canábicas, o envolvimento da Embrapa representa um divisor de águas. “Ao colocar sua credibilidade e expertise nesse setor, a Embrapa garante não só qualidade científica aos estudos, mas também chancela institucional para destravar gargalos regulatórios que atrasam o desenvolvimento econômico dessa cadeia produtiva”, analisa.
A força da ciência para um modelo agrícola sustentável
Entre os pilares do acordo, está a estruturação de um Observatório de Tendências sobre Cannabis no Agronegócio, que funcionará como um núcleo de inteligência estratégica para mapear oportunidades e gerar conteúdo técnico de referência. Além disso, será criada uma plataforma colaborativa para conectar startups, pesquisadores e empresas interessadas no desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas ao cânhamo.
Segundo Carlos Menezes, agrônomo e pesquisador em cadeias produtivas emergentes, o cultivo do cânhamo pode representar uma alternativa viável e ambientalmente segura para regiões com baixa produtividade agrícola. “Trata-se de uma planta rústica, com múltiplos aproveitamentos e capacidade de regenerar solos, o que a torna compatível com sistemas agroecológicos e agricultura familiar”, explica.
A parceria prevê ainda ações de comunicação e conscientização com foco na desmistificação da cannabis, posicionando o cânhamo como uma cultura agrícola estratégica, e não apenas como um tema polêmico de saúde pública. A proposta é conectar o debate científico às demandas econômicas, com base em dados, pesquisas de campo e experiências internacionais de regulamentação.
Caminho aberto para regulamentação e inovação
O projeto, com previsão de dois anos de execução, terá foco especial na geração de conhecimento aplicado, desde os primeiros testes agronômicos até propostas de normatização técnica que possam auxiliar o Ministério da Agricultura e a Anvisa na regulamentação do cultivo. A expectativa é que o Brasil, com sua biodiversidade, clima favorável e capacidade científica instalada, possa se tornar um polo de produção e exportação de derivados de cânhamo para fins medicinais e industriais.
Sobre a The Green Hub
The Green Hub é uma organização que visa fomentar tecnologia e inovação por meio do desenvolvimento de negócios no setor de cannabis.
Sobre o Instituto Ficus
O Instituto Ficus atua junto a governos e autoridades para apoiar o desenvolvimento legislativo e regulatório da cannabis, articulando conexões para ampliar a conscientização sobre o tema.



