Controlar ervas daninhas sem recorrer a herbicidas químicos parece um desafio e tanto, especialmente em regiões tropicais com solo fértil e chuvas intensas, como é o caso do Cerrado brasileiro. Mas uma pesquisa conduzida por cientistas da Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás, está provando que, com planejamento e respeito aos ciclos naturais da terra, esse controle pode ser feito de forma simples, eficaz e sustentável.
Durante quatro anos consecutivos, os pesquisadores testaram práticas agroecológicas em uma área em transição do cultivo convencional para o orgânico. O objetivo era entender como o uso de plantas de cobertura, a rotação de culturas e o plantio direto influenciam na presença e no comportamento das chamadas “plantas espontâneas” — vegetações que brotam naturalmente no campo e, muitas vezes, concorrem com as culturas principais por espaço, água e nutrientes.
Plantas espontâneas são controladas com biomassa e diversidade
Ao contrário do modelo convencional, que costuma tratar qualquer planta fora do planejado como erva daninha, a agroecologia adota uma abordagem mais equilibrada. Nesse sistema, as espécies espontâneas não são vistas como inimigas, mas como parte de um ecossistema que pode — e deve — ser manejado. Para isso, a estratégia adotada pelos pesquisadores foi cultivar milho e feijão na estação chuvosa e, após a colheita, ocupar o solo com plantas como mucuna-preta, sorgo vassoura, crotalária e guandu durante a entressafra.
Essa cobertura verde funciona como uma barreira física natural, impedindo que a luz alcance as sementes indesejadas e diminuindo drasticamente o surgimento de espécies invasoras. O solo, em vez de ficar exposto e vulnerável, permanece protegido com uma camada densa de biomassa. O resultado é que o próprio campo passa a regular o crescimento desordenado das plantas.
Tiririca perde força com sistema orgânico bem estruturado
Os dados obtidos impressionam. Em áreas com plantio direto e cobertura constante, a população de tiririca — uma das espécies mais agressivas em ambientes tropicais — caiu cerca de 300% em comparação com sistemas tradicionais de preparo de solo. Essa planta, conhecida pela resistência e capacidade de rebrotar mesmo após capinas, foi controlada de forma eficiente apenas com a combinação de cobertura vegetal e ausência de revolvimento profundo.
Além da tiririca, outras espécies problemáticas como trapoeraba, corda-de-viola, picão-preto e leiteiro também tiveram sua presença significativamente reduzida. A cobertura com crotalária, por exemplo, foi duas vezes mais eficiente que o solo em pousio no controle da trapoeraba, revelando o poder da escolha certa das espécies para cada necessidade.
Diversidade e rotação criam equilíbrio produtivo
O sistema agroecológico testado pela Embrapa mostrou que, ao diversificar culturas e respeitar o tempo da terra, é possível criar um ambiente mais equilibrado, onde nenhuma planta invasora domina a paisagem. A presença constante de resíduos vegetais no solo — seja de feijão, milho ou das plantas de cobertura — ajuda a manter a umidade, a microbiota e a proteção contra o impacto direto da chuva, além de inibir novas germinações indesejadas.
Nesse processo, o solo se fortalece e se regenera naturalmente, sem a necessidade de químicos para controle. A técnica imita os ritmos dos ecossistemas nativos, onde o solo nunca está nu e as espécies coexistem de forma harmônica. Com isso, produtores orgânicos não apenas economizam com insumos, como também constroem uma base produtiva mais resiliente e duradoura.