Nos dias 19 a 21 de agosto de 2025, a Embrapa Meio Ambiente sediou uma capacitação técnica dedicada a um dos aliados mais promissores da agricultura sustentável: o Bacillus spp.. Reconhecida por sua atuação eficiente no controle biológico de doenças e nematoides, essa bactéria tem conquistado protagonismo em lavouras de todo o Brasil — e foi exatamente esse potencial que pautou o curso teórico-prático promovido em parceria com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
A proposta da capacitação foi clara: oferecer treinamento aprofundado a profissionais envolvidos com bioinsumos e manejo biológico de doenças, com ênfase na quantificação e avaliação da qualidade dos produtos à base de Bacillus. Em um cenário agrícola que busca cada vez mais alternativas ao uso intensivo de agroquímicos, a padronização de métodos e a garantia de qualidade ganham força como temas centrais.
Além do conteúdo técnico, o curso revelou um retrato atual do mercado: a legislação brasileira exige que os rótulos de produtos biológicos informem parâmetros como concentração e viabilidade dos microrganismos. Isso reforça a importância da fiscalização e da rastreabilidade, garantindo segurança para quem produz, comercializa e aplica.
Agricultura mais precisa com métodos mais claros
A capacitação também refletiu o interesse crescente de empresas do setor em elevar o nível técnico de suas operações. Um dos grandes entraves do controle biológico ainda é a ausência de métodos padronizados entre os laboratórios, o que compromete a confiabilidade dos produtos. A discussão sobre protocolos claros e reprodutíveis foi uma das mais aprofundadas durante o evento, aproximando os participantes dos desafios enfrentados pela indústria e das soluções que estão sendo construídas em parceria com a pesquisa pública.
Assim como ocorre na indústria farmacêutica, a agricultura biológica exige consistência analítica. O curso oferecido pela Embrapa foi um passo importante nesse sentido, indicando um caminho promissor para novas edições com foco em outros microrganismos além do Bacillus, como fungos e bactérias Gram-negativas.
Bacillus: versatilidade e potência nos campos brasileiros
O protagonismo do Bacillus não é fruto do acaso. A bactéria apresenta uma combinação singular de atributos que a tornam altamente eficaz nas mais diversas condições de lavoura. Sua capacidade de formar endósporos — estruturas de resistência — garante longevidade e estabilidade aos produtos formulados, mesmo em ambientes adversos ou quando expostos à radiação UV, variações de pH e outros fatores comuns no campo.
Além disso, o ritmo de multiplicação dessa bactéria impressiona. Em apenas seis horas, uma única célula pode originar mais de 16 mil descendentes, resultando em colonização rápida e proteção eficiente da planta. A plasticidade genética do Bacillus também o torna um microrganismo adaptativo, capaz de interagir com o sistema radicular da planta e promover não só defesa, mas crescimento e enraizamento.
Esse desempenho biológico vem se refletindo nos números do mercado. Enquanto na safra 2018/2019 o Brasil contava com 261 produtos registrados à base de microrganismos para controle biológico, em 2023/2024 esse número mais que dobrou, superando os 680 registros — com ampla participação de formulações à base de Bacillus.
Foco no combate a nematoides e ganhos sustentáveis
Outro aspecto de destaque no curso foi o uso crescente do Bacillus como ferramenta no combate a nematoides, pragas invisíveis que causam prejuízos bilionários à agricultura. Estudos recentes apontam que, somente na soja, as perdas anuais causadas por esses organismos podem ultrapassar 10%, o que equivale à perda de uma safra inteira a cada década.
Com base em seus diversos modos de ação, o Bacillus se mostra um aliado estratégico nesse enfrentamento. Ele pode atuar como nematicida, nematostático, ovicida e até mesmo como promotor de resistência sistêmica nas plantas. Graças à sua persistência no solo — conferida pelos endósporos — a bactéria mantém sua ação protetiva ao longo de todo o ciclo da cultura, diferentemente de produtos químicos que têm efeito pontual e, muitas vezes, colateral.
O curso também explorou, de forma aplicada, o ciclo biológico dos principais nematoides que afetam as lavouras brasileiras, permitindo aos participantes identificar pontos vulneráveis desses organismos e compreender como o Bacillus pode explorá-los em benefício do cultivo.
Treinamento, técnica e impacto no campo
A experiência oferecida pela Embrapa não se limitou ao ambiente teórico: a dinâmica prática do curso incluiu desde a quantificação laboratorial até a discussão de estratégias de formulação e avaliação da qualidade. Os participantes também tiveram a oportunidade de visitar produtores que já utilizam o Bacillus em larga escala, o que tornou o aprendizado ainda mais concreto.
A expectativa é que, no primeiro semestre de 2026, uma nova edição do curso seja realizada com o mesmo formato, ampliando o acesso a essa formação de excelência. A iniciativa se consolida como uma ponte entre ciência e campo, fortalecendo a base técnica de quem atua diretamente com bioinsumos e contribuindo para o avanço de uma agricultura cada vez mais sustentável, precisa e eficaz.