Na pequena comunidade de Retrato, no município de Miguel Alves, a tradição centenária de quebrar coco babaçu acaba de ganhar um novo capítulo. Dez mulheres da Associação das Quebradeiras de Coco se preparam para inaugurar a primeira fábrica de sabonetes artesanais feitos com óleo de babaçu no norte do estado, um projeto pioneiro apoiado pela Fundação Banco do Brasil.
Mais que um empreendimento, a iniciativa representa independência financeira, valorização cultural e fortalecimento de uma atividade que sustenta famílias há gerações.
Tradição que se transforma em negócio
Rodeadas por extensas matas de babaçuais, as quebradeiras mantêm, há décadas, o conhecimento sobre o aproveitamento integral da palmeira. Do coco, elas já extraem azeite, óleo extra virgem, mesocarpo e até biscoitos artesanais, produtos que ajudam a compor a renda familiar.

Agora, com a fábrica, o potencial produtivo se expande, transformando o saber tradicional em um negócio com maior valor agregado e mercado ampliado. A presidente da associação, Maria Lúcia, lembra que a produção é mais que um trabalho: é parte da identidade da comunidade. “Esses produtos complementam fundamentalmente a renda das nossas famílias e preservam o que aprendemos com nossas mães e avós”, afirma.
Estrutura e capacitação para um novo mercado
O projeto prevê a reforma de um imóvel que abrigará a fábrica e a realização de cursos voltados para a produção de sabonetes, gestão de negócios e criação de embalagens. A capacitação também inclui técnicas de aproveitamento de subprodutos do babaçu, fortalecendo o conceito de produção sustentável.
Além da estrutura física, a iniciativa dá às mulheres acesso a conhecimento técnico e ferramentas de gestão, preparando-as para atuar de forma competitiva no mercado de cosméticos artesanais. “O curso da saboaria começará com 10 mulheres. Será uma experiência ótima e estamos ansiosas para iniciar”, comenta Maria Lúcia.
Sustentabilidade e preservação como pilares
O babaçu é visto pela comunidade como uma “mãe generosa” que oferece alimento, matéria-prima e renda sem gerar desperdício. Da palmeira, aproveita-se tudo: óleo, mesocarpo, carvão vegetal, fibras para artesanato e até adubo natural. Por isso, as quebradeiras defendem o livre acesso às matas e a preservação da espécie, essencial para a continuidade de sua atividade.

“A fabricação de sabonete artesanal combinará fatores econômicos, sociais, culturais e ambientais. Temos uma região extensa de babaçu que nunca falta”, reforça Alzira Sales Pereira, integrante da associação.
Um impacto que vai além da comunidade
O alcance do projeto ultrapassa as fronteiras de Miguel Alves. Ao integrar programas como o Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o de Aquisição de Alimentos (PAA), a associação já comercializa outros produtos para órgãos públicos, fortalecendo a economia local.
Com a nova fábrica, espera-se ampliar a visibilidade do trabalho das quebradeiras e inspirar outras iniciativas semelhantes pelo país. “A fabricação dos sabonetes será muito importante para nossa comunidade e para o Piauí. Dará grande visibilidade aos nossos trabalhos”, conclui Alzira.