Resumo
- Jovens do SESI Bahia transformam restos de caranguejo em um fertilizante sustentável que já conquista prêmios científicos e chama atenção nacional.
- O projeto BioH+ nasceu da observação de um problema ambiental em Ilhéus e evoluiu graças ao incentivo da iniciação científica escolar.
- Nicolas Yudi e Ana Cecília Assis desenvolveram a solução com apoio do professor Glauber Guimarães, ampliando o impacto do trabalho em feiras e eventos.
- A metodologia científica do SESI também inspirou outras trajetórias, como a de Luiza Gabriella, hoje premiada em hackathons e área tecnológica.
- A pesquisa escolar mostra seu poder transformador ao revelar estudantes capazes de criar soluções reais e sonhar com negócios sustentáveis.
Nas ruas de Ilhéus, onde os manguezais sustentam a cultura local há gerações, o jovem Nicolas Yudi, de apenas 17 anos, começou a enxergar um problema que se repetia diariamente. Restos de caranguejo — cascas, patas, carapaças — eram descartados sem qualquer tratamento, acumulando-se como resíduo e gerando impactos tanto ambientais quanto sanitários. Foi nesse cenário tão cotidiano quanto incômodo que surgiu a inquietação que mudaria sua relação com a ciência. Nicolas percebeu que ali poderia existir mais do que lixo: poderia existir solução.
Ao lado de Ana Cecília Assis, colega na Escola SESI Adonias Filho, ele desenvolveu o BioH+, um fertilizante natural produzido a partir desses resíduos do crustáceo. O produto, além de dar destino correto ao material descartado, corrige solos agrícolas e oferece uma alternativa sustentável para produtores da região. Assim, o que antes carregava aparência de rejeito transformou-se em um insumo capaz de devolver vida à terra.
A proposta chamou atenção rapidamente. A dupla conquistou o primeiro lugar na Batalha da Semana da Inovação, realizada em Ilhéus, e garantiu vaga na final da Feira Internacional de Iniciação Científica (FENIC), promovida pelo SESI Bahia em dezembro de 2024. Não foi apenas uma conquista acadêmica; foi a prova de que ideias nascidas da comunidade têm força para redesenhar realidades quando encontram orientação e espaço para crescer.
“A escola nunca tratou ciência como algo distante da gente”, explica Nicolas, lembrando o incentivo constante dos professores. “Desde cedo, fomos estimulados a olhar para os problemas ao nosso redor e entender que a pesquisa pode nascer exatamente ali.”
Quando a escola se torna um laboratório vivo
O ambiente que permitiu que o BioH+ ganhasse forma é parte do programa de iniciação científica desenvolvido nas unidades do SESI Bahia. A proposta é simples, mas transformadora: estimular a curiosidade e guiar os estudantes para que suas dúvidas se tornem experimentos, projetos e soluções reais. Foi assim que o professor Glauber Guimarães, orientador da unidade de Ilhéus, acompanhou cada etapa da pesquisa, ajudando a transformar inquietações em perguntas científicas e, depois, em um produto funcional.
“Sempre procuro estimular essa visão investigativa, instigando perguntas e mostrando caminhos possíveis”, conta Glauber, que viu o projeto amadurecer com o comprometimento da dupla. Segundo ele, o trabalho não surgiu pronto; nasceu de observações do cotidiano, cresceu com metodologias adequadas e se fortaleceu à medida que ganhou visibilidade nas feiras científicas.
Esses eventos, aliás, funcionam como portas que se abrem para jovens pesquisadores. “Conhecer outros estudantes e receber feedback profissional me deu mais confiança”, afirma Nicolas. De repente, o que antes parecia uma solução local se mostrou capaz de dialogar com desafios ambientais mais amplos e, ao mesmo tempo, de inspirar outras trajetórias semelhantes.
Da iniciação científica ao mundo da tecnologia: caminhos que se ampliam
A história de Nicolas não é única. A metodologia do SESI Bahia já marcou profundamente outros estudantes, como Luiza Gabriella dos Santos, que iniciou sua jornada científica no 9º ano e encontrou ali o ponto de virada para sua carreira. Hoje com 22 anos e cursando Engenharia de Software, Luiza soma prêmios em hackathons e destaca como a iniciação científica moldou seu olhar para a inovação.
“A iniciação científica me provocou uma inquietude voltada para projetos com impacto social”, afirma ela, que recentemente alcançou o primeiro lugar no Hackathon de Inovação em Saúde do SESI Bahia, criando um aplicativo voltado ao agendamento de consultas. A base técnica e a vivência colaborativa construídas na escola serviram, segundo a própria ex-aluna, como trampolim para sua atuação atual nas áreas de gestão de projetos, análise de dados e desenvolvimento tecnológico.
Inovação que transforma vidas — e futuros possíveis
As trajetórias de Nicolas e Luiza evidenciam como a ciência, quando cultivada dentro da escola, ultrapassa os limites do currículo. Ela não prepara apenas para vestibulares; prepara para enxergar o mundo com coragem investigativa, capacidade analítica e consciência social. Como resume o professor Glauber, “quando um aluno encontra orientação e um espaço de validação como a FENIC ou o Bahia Tech Experience, ele entende que suas ideias podem alcançar impacto real”.
Enquanto isso, Nicolas continua aprofundando o BioH+, ajustando fórmulas, estudando aplicações e sonhando com a possibilidade de transformar o fertilizante em um produto acessível para produtores rurais da região. O que começou como uma inquietação diante do descarte inadequado agora se desenha como um futuro negócio — e como um exemplo inspirador do potencial da juventude quando ciência, território e propósito se encontram.
E pensar que tudo começou com restos de caranguejo que, até então, ninguém sabia ao certo para onde iriam. Hoje, eles abrem portas, constroem carreiras e mostram que inovação pode nascer justamente onde poucos imaginam.



