A ferrugem asiática, considerada uma das doenças mais destrutivas da cultura da soja em escala global, voltou a preocupar agricultores da região sul do Rio Grande do Sul. Porém, dessa vez, a resposta vem também da sala de aula e do campo: estudantes do curso de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) estão atuando diretamente na identificação precoce da doença, através de um projeto que alia ensino, pesquisa e apoio direto à produção rural.
A atividade faz parte da disciplina de Epidemiologia de Doenças de Plantas e envolve a coleta de folhas em lavouras de soja da região, seguida de análise laboratorial para detecção do fungo Phakopsora pachyrhizi, agente causador da ferrugem. A iniciativa tem contribuído com o sistema de monitoramento nacional conduzido pela Embrapa, por meio do Consórcio Antiferrugem, alimentando o mapeamento com dados técnicos de campo obtidos diretamente por acadêmicos.
Educação aplicada ao campo: ciência e vigilância na prática
A vivência tem permitido aos estudantes um contato direto com os desafios enfrentados pelos produtores, especialmente no que diz respeito à sanidade das lavouras. Aliás, essa ponte entre universidade e campo tem mostrado o quanto a formação técnica pode caminhar junto à construção de soluções reais. Ao longo das safras de 2023 e 2024, os alunos da UFPel identificaram 13 e 10 focos de ferrugem asiática, respectivamente — um aumento expressivo em relação ao biênio anterior, o que reforça a importância da vigilância contínua.

As coletas abrangeram municípios estratégicos para a produção de soja no estado, como Pelotas, Capão do Leão, Camaquã, Bagé e São Lourenço do Sul. As amostras, depois de analisadas em laboratório, são repassadas ao banco de dados do consórcio, gerando relatórios atualizados que orientam desde ações preventivas até alertas fitossanitários.
Medidas fitossanitárias e o papel do conhecimento local
Entre os pontos críticos destacados no monitoramento está a alta capacidade de dispersão dos esporos do fungo, favorecida principalmente pela ação do vento e pela permanência de plantas voluntárias no campo durante a entressafra. Isso torna essencial o cumprimento rigoroso de estratégias como o vazio sanitário da soja — período no qual é proibido manter plantas da oleaginosa no solo, justamente para interromper o ciclo do patógeno.
Outra prática fundamental, frequentemente negligenciada, é o respeito ao calendário oficial de semeadura, que ajuda a reduzir a janela de exposição da lavoura à doença e também a racionalizar o uso de fungicidas. Ao evitar aplicações excessivas e desnecessárias, essa conduta contribui para frear a seleção de fungos resistentes e protege o arsenal químico disponível.