No saguão do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, a manhã do último sábado foi marcada por abraços apertados, olhos marejados e um entusiasmo contagiante. O motivo? O embarque da primeira turma de 50 estudantes da rede estadual para os Estados Unidos, dentro de uma edição inédita do programa Ganhando o Mundo Agrícola. O destino é o estado de Iowa, considerado um dos principais polos do agronegócio mundial.
Com foco exclusivo em alunos de colégios agrícolas, a iniciativa representa um divisor de águas para jovens que sonham em transformar suas raízes no campo em oportunidades globais. Ao todo, 100 estudantes serão contemplados com a experiência internacional. O segundo grupo tem embarque previsto para janeiro de 2026.
Um sonho que se tornou realidade
Para Hyasmim Corbari, estudante de São Miguel do Iguaçu, a viagem aos Estados Unidos não é apenas um intercâmbio, mas a concretização de um desejo de infância. “Desde pequena, eu dizia que queria ir para lá. Minha avó dizia: ‘sonha mais perto’. Mas eu insisti. Hoje, com o check-in feito, vejo que tudo valeu a pena. Esse programa foi pensado para a gente, dos colégios agrícolas, e isso nos fez sentir especiais”, conta, emocionada.
Além da imersão cultural e do aperfeiçoamento no idioma inglês, os participantes terão aulas práticas e teóricas voltadas para o agronegócio, empreendedorismo, inovação e sustentabilidade. A estrutura foi pensada para atender aos desafios e às vocações de quem vive e sonha com o futuro do campo.
“Esses alunos vão para um dos estados mais relevantes do agronegócio norte-americano, onde terão contato com novas técnicas, tecnologias e modelos de gestão rural”, destaca o secretário da Educação, Roni Miranda. “Tudo isso amplia as possibilidades de retorno transformador. Eles irão como estudantes e voltarão como agentes de mudança para as suas comunidades”, acrescenta.
Formação que impacta famílias e territórios rurais
Com 16 anos, Ana Laura Prestes, aluna do Colégio Agrícola de Palmeirinha, embarcou com o coração acelerado. “Nunca fui tão longe e ainda estou nervosa, mas sei o quanto isso pode mudar meu futuro. O currículo muda, a visão do mundo muda, eu volto diferente. E com o inglês mais afiado, com certeza”, projeta.
Esse sentimento é partilhado por Bruno Alcantara, de Cascavel, que vê no intercâmbio uma chance única. “Sou do interior, e essa é uma oportunidade que talvez eu nunca teria se não fosse o programa. Quero aprender tudo, especialmente a parte de gestão, porque isso pode abrir portas para mim no futuro.”
O impacto da vivência vai além do individual. Segundo Camila Aragão, diretora-geral da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, muitos dos jovens vêm de famílias que vivem diretamente da terra, e o conhecimento adquirido pode ser revertido em desenvolvimento local. “É um ciclo virtuoso. Quando um jovem volta preparado, ele traz soluções para casa, para a propriedade da família, para a comunidade”, analisa.
Vivência prática e aprendizado em ambiente universitário
Durante o período do intercâmbio, os estudantes ficarão hospedados no campus da University of Northern Iowa, em Cedar Falls, onde terão acesso a infraestrutura acadêmica de excelência. O conteúdo inclui aulas de Agronegócio, Gestão e Empreendedorismo, visitas técnicas a fazendas e indústrias, workshops e atividades práticas que simulam cenários reais da agricultura moderna.
Rafaela Reidel, de 15 anos, aluna do Colégio Agrícola de Toledo, embarcou com o objetivo claro de aplicar o que aprender na propriedade da família, que vive da suinocultura e produção leiteira. “Me esforcei muito para ser selecionada e quero aproveitar cada momento. Espero ajudar meus pais a melhorarem a produção e, quem sabe, servir de exemplo para minha irmã mais nova também participar”, diz.
O pai, Clovis Reidel, que também estudou em colégio agrícola, se emociona ao imaginar o impacto da viagem. “Ela vai ver coisas que eu nunca vi. Vai voltar com ideias novas, soluções modernas. É um orgulho imenso.”
Ganhando o Mundo: um programa que transforma
Lançado em 2022, o Ganhando o Mundo já é considerado o maior programa de intercâmbio estudantil para alunos da rede pública estadual do Brasil. Com mais de 2.500 estudantes, professores e gestores já beneficiados, a iniciativa oferece experiências acadêmicas e culturais em instituições de excelência no exterior.
A edição de 2025 prevê 1.300 vagas, com destinos como Austrália, Canadá, Irlanda, Escócia, País de Gales, Nova Zelândia e Estados Unidos — estes últimos, voltados exclusivamente aos alunos de colégios agrícolas. Já a edição de 2026 será a maior já realizada, com previsão de 2 mil vagas, ampliando o alcance e o impacto da política educacional.
Segundo o secretário Roni Miranda, a aposta na formação técnica aliada à vivência internacional é estratégica. “O Paraná tem vocação agrícola. Investir nesses jovens é fortalecer o futuro do estado com inovação, conhecimento e conexão global.”