Enquanto o mundo busca soluções energéticas mais limpas e eficientes, o Brasil encontra no milho um aliado poderoso. O avanço do etanol produzido a partir desse cereal não apenas fortalece a matriz energética nacional como também redesenha o próprio mapa da agricultura.
Nos últimos anos, esse biocombustível ganhou destaque por sua capacidade de reduzir emissões e por gerar coprodutos valiosos. Mas é no campo que sua influência se faz mais notável — impulsionando o melhoramento genético, a rentabilidade e a abertura de novas fronteiras produtivas.
A força do milho no coração do Cerrado
De 2017 a 2022, a produção de etanol de milho saltou de forma impressionante no Brasil: um crescimento de 800%, atingindo a marca de 4,5 bilhões de litros. Com projeções que apontam para 10 bilhões até o fim da década, o cereal se consolida como um pilar da bioenergia no país. Esse avanço, no entanto, só é possível graças a uma transformação silenciosa que ocorre nas lavouras — o desenvolvimento de híbridos adaptados às condições mais exigentes do Cerrado.

A seleção genética focada em estabilidade, precocidade e desempenho em diferentes ambientes ampliou o uso do milho em regiões antes marginalizadas pela escassez hídrica ou pela alta temperatura. A lavoura que antes se limitava a solos férteis hoje ganha espaço em áreas com menor aptidão agrícola, sem comprometer a produtividade. O resultado é um salto tecnológico que une ciência agronômica e resposta do solo, fazendo com que cada semente carregue não apenas potencial de grão, mas também energia renovável.
Tecnologia que impulsiona a indústria
O impacto dessa revolução genética vai além do campo. A indústria de etanol colhe os frutos da melhoria na qualidade dos grãos, que passam a apresentar maior uniformidade e eficiência na conversão do amido em álcool combustível. Com isso, o rendimento industrial cresce e o custo por litro de etanol cai — tornando o Brasil cada vez mais competitivo no cenário global.
Além do combustível, o processo produtivo gera subprodutos valiosos como o DDG (grão seco de destilaria), altamente nutritivo e utilizado como suplemento na alimentação animal. Mais recentemente, o DDG brasileiro passou a ser exportado para a China, abrindo um novo capítulo na balança comercial do agro. O óleo de milho, também extraído do processo, amplia as possibilidades industriais e contribui para diversificar a cadeia de valor.
Etanol verde e as novas fronteiras energéticas
A sustentabilidade do etanol de milho não está apenas na sua produção limpa. Estudos mostram que ele emite até 70% menos gases de efeito estufa do que a gasolina, tornando-se uma das alternativas mais eficazes na transição para uma economia de baixo carbono. Esse desempenho ambiental, aliado ao potencial agrícola brasileiro, coloca o país em posição de destaque no cenário internacional.
Atualmente, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de produção de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Enquanto os norte-americanos atingiram cerca de 61 bilhões de litros em 2024, o Brasil chegou a 33,2 bilhões no mesmo período — número que tende a crescer com a consolidação de novas usinas e ampliação da produção nos estados do Centro-Oeste.