O ovo, que raramente protagoniza as manchetes do comércio exterior, acaba de se tornar peça-chave em um cenário internacional cada vez mais influenciado por barreiras sanitárias e econômicas. No rastro de uma crise sanitária sem precedentes nos Estados Unidos, a demanda por ovos brasileiros disparou, abrindo novas oportunidades para a avicultura nacional. Contudo, esse avanço encontra agora um obstáculo: o novo tarifaço norte-americano, que ameaça encarecer e limitar as exportações do setor.
A escalada nas exportações foi impulsionada pelo maior surto de gripe aviária já registrado em solo americano, que levou ao abate de mais de 180 milhões de aves em 2024. Desde então, os Estados Unidos passaram a depender fortemente de fornecedores externos para atender à sua demanda interna por ovos e derivados. Entre os países beneficiados, o Brasil se destacou: apenas nos seis primeiros meses de 2025, mais de 15 mil toneladas de ovos foram embarcadas para o mercado norte-americano, gerando uma receita de US$ 33 milhões, de acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
A dimensão desse salto é notável. No mesmo período do ano anterior, o volume enviado era praticamente irrelevante. O crescimento de mais de 1.000% revela não só a capacidade da indústria brasileira em responder rapidamente às demandas externas, como também o potencial estratégico do setor em momentos de crise sanitária global. Para se ter uma ideia do protagonismo dos EUA nesse cenário, o segundo maior comprador — o México — importou pouco mais de 1,5 tonelada no mesmo intervalo, com receita de US$ 6,9 milhões.
No entanto, o cenário promissor se viu ameaçado pela decisão dos Estados Unidos de ampliar as tarifas sobre uma série de produtos brasileiros, inclusive os ovos. Embora não tenha sido um dos focos principais nas mesas de negociação, o produto foi incluído no pacote de taxações, acendendo o alerta entre produtores e entidades do setor.
A ABPA, em nota, manifestou preocupação com o impacto dessa medida e reforçou a expectativa de que o bom senso prevaleça nas conversas diplomáticas em curso. Para a entidade, o momento exige pragmatismo e esforço bilateral para que a parceria comercial entre os países não seja enfraquecida por decisões unilaterais. “Os produtores esperam e acreditam no total empenho do governo brasileiro pela continuidade das negociações”, destaca o comunicado.
Apesar da alta visibilidade recente, é importante lembrar que as exportações ainda representam uma fração pequena da produção nacional de ovos — menos de 1%. Isso significa que os reflexos econômicos diretos sobre a cadeia produtiva doméstica devem ser limitados, ao menos no curto prazo. Por outro lado, a oportunidade de consolidar o Brasil como fornecedor confiável de ovos em mercados estratégicos pode ser desperdiçada se barreiras comerciais não forem revistas.