Resumo
- O presidente do Cecafé, Marcos Matos, defendeu o fim das tarifas americanas sobre o café brasileiro e afirmou que o setor já está exausto com as barreiras comerciais.
- Desde setembro, o café verde do Brasil enfrenta uma alíquota de 50% nos EUA, enquanto concorrentes pagam apenas 10%, comprometendo a competitividade brasileira no mercado.
- Torrefadoras americanas estão em diálogo com autoridades dos EUA para viabilizar a isenção do café brasileiro, pressionadas pela necessidade de estabilidade no fornecimento.
- O Cecafé propõe que Brasil e EUA iniciem negociações públicas específicas por produto, acreditando que esse modelo pode destravar acordos e superar resistências diplomáticas.
- A entidade alerta que, sem mudança na política tarifária, o Brasil pode perder espaço definitivo nos blends americanos, comprometendo sua liderança histórica no setor cafeeiro.
O desgaste causado pelas tarifas sobre o café brasileiro nos Estados Unidos volta ao centro das discussões entre líderes do setor agroexportador. Em um momento de expectativa por parte do governo americano quanto à revisão de barreiras comerciais, o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, declarou que o Brasil precisa urgentemente avançar nas tratativas. “Vamos torcer; estão todos cansados dessas tarifas. Passou da hora de virar essa página”, disse Matos, após sinalizações do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, sobre possíveis alívios tarifários para produtos como café, bananas e outras frutas nos próximos dias.
A fala do dirigente reflete a tensão crescente em torno de um entrave que já se arrasta por tempo demais. Desde a ordem executiva publicada em 5 de setembro, que manteve as tarifas de importação sobre o café verde brasileiro em 50%, o setor vem relatando perdas de competitividade. Segundo o Cecafé, o impacto é direto sobre os blends comercializados no mercado americano, uma vez que concorrentes internacionais operam com alíquotas de apenas 10%, ganhando espaço entre os consumidores e nas prateleiras.
Movimentações nos bastidores do comércio bilateral
Nos bastidores, há esforços de diplomacia comercial entre a indústria torrefadora dos Estados Unidos e autoridades locais. O Cecafé informou que as principais empresas do setor americano estão em contato permanente com o Departamento de Comércio e com o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR), justamente para argumentar em favor da isenção tarifária sobre o café brasileiro.
Esses movimentos, embora discretos, refletem a urgência de uma readequação no tratamento ao produto brasileiro, que é um dos mais tradicionais e demandados internacionalmente. De acordo com o Cecafé, a permanência da alíquota elevada poderá comprometer ainda mais a posição do Brasil em cadeias globais de suprimento. “Seguimos com 50%, enquanto o consumidor dos EUA vai se adaptando a novos parâmetros. O Brasil, obviamente, não conseguirá reconquistar os espaços nos blends se essa situação das tarifas se prolongar”, alertou a entidade em nota.
Um novo caminho para as negociações?
Diante desse cenário, o Cecafé defende uma abordagem mais pragmática e direta por parte dos governos de ambos os países. A ideia é que Brasil e Estados Unidos anunciem publicamente o início de uma negociação concreta e específica para produtos estratégicos – como o café. A entidade argumenta que olhar o problema de forma segmentada, “produto a produto”, pode abrir caminho para soluções que destravem as negociações, contornando resistências políticas mais amplas.
O momento, para o setor, exige agilidade. A entrada de novos fornecedores no mercado americano e a mudança nos hábitos de consumo ameaçam a hegemonia brasileira conquistada ao longo de décadas. Para Marcos Matos, mais do que uma questão tarifária, trata-se de uma oportunidade de retomar o protagonismo do país em um de seus principais destinos exportadores. Afinal, virar a página é preciso — antes que o capítulo se encerre sem final feliz para o café brasileiro.



