É difícil passar por um feed de rede social sem se deparar com ele: o morango do amor. A fruta vermelha mergulhada em calda brilhante e espetada no palito conquistou o paladar e o olhar de quem curte doces criativos — e, mais do que uma moda passageira, se transformou em um verdadeiro motor de transformação econômica.
Enquanto para alguns o visual repetido já dá sinais de saturação, nos bastidores, o doce vem movimentando toda uma cadeia produtiva: do agricultor que colhe os frutos às confeiteiras que veem suas vendas dispararem em questão de dias. O fenômeno revela a força das redes sociais na criação de tendências que impactam diretamente o cotidiano — e a renda — de milhares de brasileiros.
Doçura em alta: confeiteiras comemoram recordes de venda
A confeiteira Amanda Mandita, responsável pela Amandita Doces, em Caucaia (SP), foi uma das primeiras a comemorar nas redes o impacto da novidade em seu negócio. “Foram mais de 200 unidades em um único dia. Isso me fez lembrar o quanto é importante esperar as coisas acontecerem no tempo de Deus”, publicou em seu perfil, emocionada.

Segundo ela, o crescimento repentino das vendas reforçou a importância de estar preparada para o extraordinário. A loja, que já contava com clientela fiel, viu a procura disparar ao ponto de motoboys formarem fila para garantir que os pedidos chegassem a tempo.
No Espírito Santo, a história se repetiu. Uma confeitaria que enfrentava dificuldades por conta da necessidade de deixar o ponto físico encontrou no morango do amor a salvação inesperada. Em poucos dias, a tendência virou alternativa real de recomeço — e de lucro.
A fruta mais desejada do momento — e mais cara também
Com a demanda nas alturas, o morango sumiu das prateleiras. A oferta, que já costuma oscilar conforme a safra, não acompanhou o ritmo das encomendas. O resultado foi um aumento expressivo nos preços da fruta em todo o país. Em algumas capitais do Nordeste, o quilo chegou a R$ 40,00. No Ceará, o valor no atacado disparou 44,6%, alcançando os R$ 50,00.
No Sudeste, a variação também chama atenção: caixinhas que antes custavam cerca de R$ 10,00 agora podem passar dos R$ 25,00, especialmente quando se trata de morangos de alta qualidade ou orgânicos. Em Campo Grande (MS), o quilo do morango convencional foi cotado a R$ 23,00 — um reflexo direto da busca pelo doce mais falado da internet.
Produção regional e o papel da agricultura familiar
Apesar da alta nos preços, o morango não é novidade na agricultura brasileira. Minas Gerais e São Paulo concentram mais de 60% da produção nacional, com destaque para o Sul de Minas — onde a cidade de Pouso Alegre lidera com 87,5% da colheita estadual. A estimativa para 2024 prevê uma produção de até 173 mil toneladas na região.

Além disso, o cultivo da fruta se destaca como uma das atividades que mais impulsionam a agricultura familiar. Pequenas propriedades e mão de obra familiar sustentam a base da produção, gerando emprego, renda e até o retorno de jovens ao campo. Com colheita entre 50 e 100 dias após o plantio, o morangueiro oferece uma alternativa viável de retorno rápido e rentável.
Tendência que virou negócio — e lição de marketing
Muito além da estética, o morango do amor é um símbolo de como o desejo visual se traduz em oportunidades de negócio. Como explicou em nota o Sebrae, o sucesso do doce se deve à força da imagem: “Um vídeo bonito, um nome criativo, uma imagem que dá vontade de comer — e pronto. Em poucos dias, tá todo mundo querendo experimentar”.
Segundo o Sebrae, esse é o momento ideal para escalar o portfólio de produtos, especialmente para quem já atua no ramo de doces ou deseja começar. “O moranguinho do amor tem apelo visual, é fácil de fazer, tem baixo custo e pode ser vendido tanto na rua quanto em uma doceria ou lanchonete”, apontou a instituição.