O Brasil dá um passo estratégico rumo à autonomia no cultivo de morangos com a ascensão da cultivar BRS DC25 Fênix, desenvolvida pela Embrapa. Em pouco tempo, essa variedade deixou de ser apenas uma promessa no campo experimental para se tornar protagonista nas lavouras brasileiras. Com produtividade expressiva, sabor marcante e custo acessível, a Fênix representa uma alternativa sólida à histórica dependência de mudas importadas — que, até recentemente, respondiam por quase toda a produção nacional.
Em dois anos, o número de viveiristas licenciados para multiplicar a cultivar dobrou. A produção de mudas ultrapassou os cinco milhões de unidades e, se mantiver esse ritmo, deverá atingir a marca de 10 milhões até 2026. Mais do que números, esse salto sinaliza uma mudança estrutural: o Brasil começa a produzir com tecnologia própria uma variedade adaptada ao seu clima, logística e sazonalidade — pontos que sempre representaram entraves ao cultivo nacional em larga escala.
Enquanto as mudas importadas, principalmente do Chile e da Espanha, seguem custando caro — entre R$ 2,30 e R$ 3,60, cotadas em dólar —, a Fênix oferece uma alternativa local viável e escalável. Ao ser lançada no mercado, sua principal promessa era clara: unir qualidade sensorial, precocidade no cultivo e alta produtividade, e é justamente isso que tem se confirmado nas lavouras.
Os dados de campo não deixam dúvidas sobre o desempenho da cultivar. A produtividade da Fênix oscila entre 900 gramas por planta em sistemas semi-hidropônicos e impressionantes 1,6 kg por planta em cultivo a campo sob túnel baixo. O plantio pode ser iniciado entre março e abril, com colheita já no início de maio — o que antecipa a chegada ao mercado antes do pico da safra e favorece preços mais atrativos ao produtor.

Além disso, a resistência às variações climáticas e a adaptação a diferentes sistemas de manejo têm sido diferenciais importantes para os agricultores que buscam mais segurança diante das oscilações de temperatura e umidade, cada vez mais frequentes no calendário agrícola.
Desde sua apresentação oficial ao mercado na Expointer de 2023, a Fênix não parou de conquistar território. Inicialmente abraçada pelos estados do Sul e Sudeste, como Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, a cultivar foi recentemente recomendada para o Distrito Federal, onde está localizado um dos polos mais importantes do morango brasileiro, em Brazlândia.
Em paralelo ao crescimento interno, o interesse internacional também começa a surgir. Países europeus afetados pelas mudanças climáticas, especialmente na região do Mediterrâneo, já demonstraram interesse em testar a genética brasileira. A expectativa é que o morango nacional ganhe também reconhecimento global, abrindo novas possibilidades de exportação de mudas.
A confiança dos produtores tem sido decisiva para a consolidação da Fênix no mercado. No interior gaúcho, por exemplo, agricultores relatam desempenho acima do esperado: florescimento acelerado, pegamento uniforme das mudas e frutos com excelente qualidade, mesmo diante de desafios climáticos. Já em Atibaia (SP), uma das regiões mais tradicionais no cultivo da fruta, a cultivar se tornou símbolo de orgulho local. Em parceria com a Embrapa, o viveiro municipal distribuiu 400 mil mudas da Fênix a produtores da região, fortalecendo ainda mais a cadeia produtiva.



