O governo federal iniciou um movimento inédito para ouvir comunicadores, jornalistas e organizações da sociedade civil a respeito dos desafios e oportunidades que cercam o jornalismo socioambiental, especialmente na Amazônia. A Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República lançou, em 11 de agosto, a Consulta Pública de Tomada de Subsídios sobre Sustentabilidade do Jornalismo Ambiental e sobre a Amazônia. A proposta é reunir ideias e diagnósticos que possam subsidiar a criação de políticas públicas voltadas à proteção, pluralidade e fortalecimento da cobertura ambiental no Brasil.
A iniciativa surge em um momento de maior atenção à integridade da informação e à segurança dos profissionais que atuam no setor. Apesar de o país ter subido 47 posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, a atuação de comunicadores que investigam questões ambientais e amazônicas ainda é marcada por riscos, tanto à integridade física quanto à liberdade de expressão. Por isso, o governo aposta em um processo participativo como estratégia para encontrar soluções mais eficazes e legítimas.
Um debate que parte da realidade da Amazônia
A consulta, aberta até 7 de setembro na plataforma Participa + Brasil, é voltada não apenas a jornalistas e veículos de mídia, mas também a pesquisadores, representantes de instituições públicas e cidadãos interessados na pauta. Entre os eixos de discussão estão as violências contra comunicadores ambientais, a proteção e segurança no exercício do jornalismo, o acesso à informação sobre meio ambiente e Amazônia e os desafios específicos da cobertura na região.
O questionário foi elaborado pela Mesa de Trabalho Conjunta formada após as medidas cautelares emitidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) no caso envolvendo Bruno Pereira, Dom Phillips e membros da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari. O grupo, que reúne representantes do Estado e da sociedade civil, busca aprimorar a proteção de defensores ambientais, comunicadores e lideranças indígenas.
Antes do lançamento oficial, a Secom participou de uma missão interinstitucional ao Vale do Javari, onde ocorreu um momento de escuta pública com comunicadores locais. O encontro, realizado na sede da Univaja, discutiu desinformação, segurança e as especificidades de produzir jornalismo em uma das regiões mais sensíveis do país.
Conexão com compromissos globais
A Tomada de Subsídios também se articula a iniciativas internacionais. O Brasil é signatário da Iniciativa Global para a Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, lançada em 2024 com apoio das Nações Unidas e da Unesco. Esse compromisso reforça a importância de assegurar que a informação ambiental seja precisa, confiável e acessível, fortalecendo a cobertura jornalística sobre a crise climática.
Para a Secretaria de Políticas Digitais, falar em sustentabilidade do jornalismo vai além da dimensão financeira. É garantir um ecossistema de informação livre, seguro e diverso, capaz de oferecer condições dignas de trabalho, respaldo legal à liberdade de imprensa e ambientes digitais mais transparentes.
Como participar
Qualquer interessado pode acessar a consulta pública pela plataforma Participa + Brasil e enviar sugestões, diagnósticos e propostas. Materiais complementares de até 20 MB podem ser encaminhados por e-mail para [email protected], com o assunto “Tomada de Subsídios – Jornalismo Ambiental”.
Todas as contribuições serão reunidas em um relatório público, que servirá de base para ações, programas e marcos regulatórios em elaboração pela Secom. A expectativa é que, ao final do processo, o país avance na construção de políticas públicas capazes de proteger a integridade de quem comunica e garantir que a cobertura socioambiental — especialmente na Amazônia — seja plural, segura e sustentável.